Tenho feridas que ninguém vê, cicatrizes que ninguém leu, carrego um peso que não é meu, mas me ensinaram a dizer: “é.”
Engoli gritos por educação, me calei por obrigação, disfarcei o trauma na respiração, e sorri com medo na palma da mão.
É estranho saber — e aceitar — com horror, que nem o sangue escolhe ser protetor. Que quem devia cuidar e guardar, é quem primeiro aprende a violar.
Dentro daquele quarto, daquele mundo, vi meu pequeno abrigo ruir num segundo. Vi o teto virar céu, o chão se romper, e o silêncio virar tudo que eu podia ser.
Tentei esquecer nos lençóis da rotina, mas a memória é uma língua que ensina. Ela volta, morde, arranha e grita, me olha no espelho e nunca hesita.
Meu corpo virou lugar de guerra, meu peito é campo, minha alma — serra. Tento escrever, mas as mãos tremem, as palavras fogem, os versos gemem.
Queria ser voz, coragem, resposta, mas sou silêncio no meio da aposta. Queria ser lâmina, grito, trovão, mas sou só ausência dentro do “não.”
Choro em segredo, quase sem ruído, pra não ser drama, pra não ser ouvido. Escrevo tentando fazer sentido, de um crime que virou meu abrigo.
E ainda assim, carrego a vergonha alheia, como se o erro fosse da minha ideia. Como se meu corpo pedisse o castigo, como se ser criança fosse um perigo.
Mas hoje escrevo — não pra perdoar, mas pra lembrar que vou continuar. Porque mesmo quebrada, sigo erguida, e transformar dor em arte… é resistir à vida.
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Autor:
lua (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 14 de abril de 2025 08:15
- Categoria: Perdão
- Visualizações: 5
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