Você foi o primeiro a olhar para trás e ver seu próprio rosto desfigurado.
Enquanto o resto de nós, com os olhos vazios,
Morreram antes de conhecer o portador do machado,
Que abriu nossas costas, mergulhando-nos na piscina do medo.
Esse homem do machado era como nós?
Humano, com uma boca capaz de sorrir, com olhos capazes de derramar lágrimas?
Ou era apenas um avatar?
Eu sou um dos que viram e ficaram calados. Como serei punido?
Eu vi os espinhos e disse que eram apenas rosas zangadas.
O Mal não é apenas o Bem que perdeu a inocência?
Por que então somos empurrados, apesar de nós mesmos, ao desespero,
E depois somos acusados e condenados à forca?
E quem são esses juízes que nos condenam?
Martelando nossas cabeças com golpes de hipocrisia.
As aulas de caratê da minha infância não fizeram de mim um guerreiro.
Ao contrário, me fizeram conhecer o medo e a culpa.
Hoje sou apenas um pedaço de carne dramático,
Que sonha em mergulhar em uma piscina de doces e amor.
Entreguei minha mercadoria e nunca recebi seu preço.
Onde estão os poemas que elaborei cuidadosamente sobre solidão e quietude?
E os manifestos sobre a injustiça e a desigualdade que permeiam a humanidade?
Escrevi sobre as fronteiras até que se transformassem em um lar,
Sobre o sangue até que ele se transformasse em gotas de ódio.
Ainda estou procurando por aquele que colocou sua mão em meu bolso,
E sorrateiro, levou a minha percepção do certo e do errado.
Perdoe-me por não ter olhado para trás naquele instante.
Eu te deixei sozinho como uma centelha na escuridão, olhando para trás,
E nem me dei conta de que, talvez, tu tenhas visto o meu rosto.
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Autor:
Pacificador (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 8 de abril de 2025 09:30
- Comentário do autor sobre o poema: O paradoxo desnecessário que nos desafia diante da inércia e da ineficácia da hipocrisia.
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 8
Comentários1
Realmente um " baita" desabafo, um grito revoltoso pelas controvertidos ações ( ou falta delas!). Deixa' nos a cabeça cheia de interrogações para entender correto o " ego" deixando transparente o poeta e toda a sociedade.
Sim. E é uma tarefa diária e incessante. Obrigado pelo comentário.
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