O escorpião e o sapo ( CONTO )

Pacificador

Num belo dia quente e ensolarado, de repente, começou um incêndio na floresta. E, por instinto, todos os animais correram em direção ao rio a fim de fugir das chamas que avançavam agressivamente.

Zebras, rinocerontes, capivaras, tigres, girafas, lebres, gafanhotos, serpentes..., enfim, todas as espécies lutando pela vida em meio às labaredas e à fumaça asfixiante.

O sapo, que morava na margem do rio, já se preparava para atravessá-lo, quando um escorpião o chamou :

— Ei, sapo ! Me ajude a atravessar o rio. Eu não sei nadar e não quero morrer carbonizado.

O sapo, malandramente, respondeu :

— Tá pensando que eu sou doido ? Se eu deixar você se aproximar de mim, você vai me picar e eu vou morrer envenenado.

O escorpião retrucou :

— Não, meu amigo ! Fique tranquilo ! Numa situação de emergência como esta devemos ajudar uns aos outros. Eu prometo que não vou te picar.

O fogo já se aproximava do rio e, com o calor intenso, muitos bichos já haviam morrido. Então, o sapo, mesmo não estando totalmente convencido da sinceridade do escorpião, porém, movido pelo espírito de solidariedade, decidiu ajudar aquele animal peçonhento, colocando-o nas suas costas e nadando em direção à outra margem.

Quando faltavam poucos metros para alcançar a margem, o escorpião, de repente, picou as costas do sapo, que, contorcendo-se de dor e sentindo seu corpo enrijecer pelo efeito do veneno, começou a afundar, dizendo:

— Seu escorpião traiçoeiro ! Você disse que não iria me picar. Agora eu não vou mais conseguir nadar e nós dois vamos morrer. Por que você fez isso ?

E o escorpião, já se afogando, respondeu :

— Me perdoe, meu amigo, mas..., “essa é a minha natureza”.

 

Ao terminarmos de ler esta estória, nos perguntamos :

Porque traímos a confiança das pessoas com atitudes, palavras e comportamentos que nos fazem amargar o sofrimento da culpa e do remorso, muitas vezes, durante a vida inteira ?

Porque mentimos e trapaceamos, mesmo sabendo que mais cedo ou mais tarde a verdade virá à tona e que, no final, o prejuízo será maior do que a vantagem obtida ?

Enfim, porque insistimos em repetir os erros que nos causam tanto sofrimento e que, ocasionalmente, poderão nos custar a própria vida ?

O escorpião, no seu último suspiro, nos deu a resposta.

  • Autor: Pacificador (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 4 de abril de 2025 10:53
  • Comentário do autor sobre o poema: Não adiante tentar mudar as pessoas. Elas mudarão por si mesmas quando lhes for conveniente ou inevitável.
  • Categoria: Conto
  • Visualizações: 7
Comentários +

Comentários1

  • Rosangela Rodrigues de Oliveira

    Falou tudo seu conto. O instinto leva a pessoa a tomar atitudes que muitas vezes a fragilidade de outros não são capazes de entender, mas com certeza se outros tivessem o extinto do escorpião fariam coisas piores. O sapo por exemplo pra sua sobrevivência come os mosquitos na beira da represa. Bom dia poeta.

    • Pacificador

      Bom dia. Gratidão pelo seu comentário. Realmente, reprimir os instintos primitivos que todo ser humano possui não é tarefa fácil, mas também não é impossível. É um exercício diário. Tenha um ótimo final de semana.



    Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.