Pote de Areia

Há um vazio bem perceptível em você

Um vazio profundo, visível

Que você sempre tenta preencher

Com um pão líquido

Que lota sua mente de aldeídos

Com uma neve aspirável

aceleradora de cada segundo seu

Ou uma planta mágica

Com o poder de se transformar

Em uma relaxante fumaça

Isso sempre te deixa preenchido

Pelo montante de milhões de grãos

Cristalinos de dopamina

Considerados por você como seus

Salvadores

O implacável vento, no entanto

Os carrega para fora de seu pote

Tal qual fragmentos do puro nada

Roubando-lhe efêmero atenuante

De torturante ausência

Dentro de você

E assim você

Repete o ciclo de preenchimento

Para experimentar o vazio

Pela menor quantidade de tempo possível

Enquanto a tolerância te motiva

A sempre encher o pote

Um pouco mais a cada reabastecimento

Terminando, por fim, no seu próprio

Enterro dentro daquilo

Que você acreditava tanto

Te salvar