no primeiro segundo
minha vida começou a fugir de mim
eu não tenho controle
minha visão é turva
eu estou fora do meu próprio corpo
eu aprendi a flutuar
tic tac
no segundo segundo
eu caí no chão
e tudo aquilo que existia
despencou aos meus próprios pés
tic tac
no terceiro segundo
o amor correu em minha direção
e eu fiz ele se matar
ele teve uma convulsão no chão da sala
tic tac
no quarto segundo
eu desaprendi a ler o relógio
e quando eu olhava pra ele
eu só conseguia ouvir
tic tac
no quinto segundo
minhas costas começaram a sangrar
existia uma faca ali
ela era tão longa
que eu pude ver ela pela frente
tic tac
no sexto segundo
eu fiz de tudo para permanecer viva
para querer acordar quando o relógio despertasse amanhã
mas ai
eu vi algo subindo pelas minhas pernas
algo que me invadiu
e eu voltei a sangrar
tic tac
no sétimo segundo
eu fui embora
eu fugi
eu mudei de vida
e frequentei outra cidade
ninguém me conhecia ali
mas a minha cabeça
continuava gritando
que eles sabiam sobre todo o meu passado
que aqueles olhares viam a faca atravessando meu tórax
que aqueles olhares sabiam que eu era uma assassina
que eles sabiam que eu não consegui impedir o meu primeiro amor
de cometer suícidio
e que eu estava fugindo para não desistir de acordar no dia seguinte
que minha alma berrava o dia inteiro todos os dias da semana
e que as digitais do toque invasivo não saíram da minha pele
que eu sou paranoíca e sinto que estou sendo perseguida desde os meus oito anos
que eu passo semanas sem comer e corro descalça
até que meus pés queimem e eu grite por andar
que eu me castigo todos os dias da minha vida
por não saber quem eu sou
e que por mais que eu tente correr
desde o primeiro segundo
tudo o que eu sou capaz de ouvir
é
tic tac
-
Autor:
Stranger. (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 16 de março de 2025 19:40
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 3
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.