Culpas, Porquês e o Acaso
(Por Sandro MS Lino)
Era influxo, gradativo e inepto, praxe para os gestos da vida de um imberbe.
Na volta seguinte do relógio, a parábola se dobrou: o que era ascendente despencava.
Seca, escuro e lama ao redor, olhos sangrando — nada se via.
De joelhos, procura-se o perdão.
Perdão?
Não. O verbo não cabe aqui.
Talvez uma conjunção explicativa. Que tal porquê?
Porquê?...
Ecoava pela estrada. Não basta estar jogado aqui?
Sem respostas, apenas o silêncio culpado,
procurando sentido nas páginas sangrentas deste livro sem enredo.
Culpa?
Negue.
Ousar é negar a culpa.
O verbo se recusa a conjugar porque o contexto não permite.
Então, no vazio, se põe algo mais:
Fatalidade. Acaso.
Sim, acontece. Ponto.
E antes que o pensamento se fixe, o quartzo vibra.
Em sua precisão inegociável, 32.768 pulsos e tudo já mudou.
Na nova curva do plano, não há outra rota.
Erra-se ao crer que havia um “se” possível.
A vida se faz em verbos. Estrofes de presente.
Depois da lama, o quartzo vibrou milhares de vezes.
Entre culpas, redenção incerta, cegueira e traumas,
a poeira fatal se infiltrou em mim —
primeiro a pele, depois a derme, a hipoderme.
E tal qual a vesícula, tornou-se parte de mim.
Mas…
Se por acaso uma luz com o foco certo surgir,
há esperança.
Ela veio. Com um candeeiro simples,
uma lógica única que, todo dia, toca, leve ou profundamente,
os grãos de poeira sob minha pele.
Cirúrgica, limpa-me.
A cegueira, então, é só mais uma condição humana suportável.
O candeeiro percorre outros cantos obscuros da minha humanidade,
e eu, espantado, vejo que eles têm um peso,
significante — não brilhante —
mas suficiente para o que antes era seco, sujo e decadente.
Há pouco tempo. Mas um longo caminho.
A bateria energiza o quartzo,
e o novo segundo já se anuncia
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Autor:
SM Lino (
Offline)
- Publicado: 13 de março de 2025 09:56
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 1
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