O Último Apaga a Luz

Leonardo Ramos

O Último Apaga a Luz

Bom dia, trópico. Fiquei devendo minha presença no domingo passado. Nada de grave, só preguiça. Quem nunca sentiu o peso de existir? Quem nunca viu o tempo escorrer pelos dedos sem resistência? Eu, quase sempre.

Sei que são necessários mais esforços — meus, seus, da diplomacia americana. Mas há dias em que tudo parece um grande espetáculo grotesco, um circo sem lona, sem aplausos, sem encanto. O show continua, mesmo sem plateia.

Enquanto isso, do outro lado do oceano, o velho continente se arrasta, amparado em muletas. Esperou demais do filho que criou e agora mal se sustenta. Caminha para o asilo, levando consigo uma era inteira. Pausa para um café. No Brasil, o café também esfria.

Andei por aí esta semana. No meio do caminho, encontrei o país sentado no meio-fio: cabisbaixo, quebrado, sujo e sem voz. Esfregava, com resignação, sapatos Ferragamo de homens que jamais lhe dirigiriam um olhar. Na marmita, só ausência. Nem um ovo. Estava caro. Mas que importa? O samba já começou.

No sambódromo, brilham as fantasias; no Supremo, quase brilharam os explosivos. Entre um desfile e uma farsa golpista, a democracia vacila, dança no salto, recupera o fôlego e segue. A música segue também.

Que seja. É tempo de se perder no ritmo, de soltar o corpo, de torcer pelas escolas que realmente importam — as de samba. Tempo de se aliviar nas ruas, deixar o riso escapar, levar o estresse para passear. De viver o país que dança para esquecer, mas tropeça na realidade.

Ora, nem só de preocupações vive o homem, ainda que elas o acompanhem há meio milênio. Tomarei minhas cervejas. Em casa, sim, mas estarei embriagado.

Estes dias, andei pensando sobre fé, questionei a minha, mas, no fim, se algo existir, rezo apenas por chuva, que caia forte e sem trégua. Um excelente Carnaval a todos.

Leonardo Ramos de Almeida
  • Autor: Leonardo Ramos (Offline Offline)
  • Publicado: 8 de março de 2025 09:35
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 4


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