PRAZERES COMPRADOS
— Bem feito! — dizia ela, mas só com o olhar.
Ele apenas vestiu a camisa, calçou os tênis, lançou um aceno sem qualquer peso e saiu porta afora.
— Volte aqui, seu cafajeste! — gritou, mas sua voz se perdeu no eco do apartamento vazio.
Rasgou os lençóis num acesso de raiva, levantou-se nua, foi até a sacada e acendeu um cigarro com as mãos ainda tremendo. Lá embaixo, viu quando o sedã preto saiu da garagem cantando pneus, desaparecendo na noite.
Quisera ela mais algum tempo, mas no fundo sabia que só possuía aquilo que o dinheiro podia pagar. E nem sempre o mesmo tinha todo horário.
A raiva mal havia passado quando o telefone tocou.
— Meu bem, desculpe… O dia hoje foi corrido — sussurrou uma voz sedutora do outro lado da linha. — Mas de todos os lençóis, os seus são os mais macios e sedosos. E olhe que, com você, eu nunca reclamei do cheiro da nicotina.
Ela bufou, lançou um olhar perdido para a cidade e espraguejou tudo o que fosse santo ou demônio. Tragou fundo, apagou o cigarro na beirada da sacada e serviu uma dose de uísque sem gelo. De gelado, já bastava a indiferença do seu jovem rebelde.
A noite caiu densa sobre seus ombros quando o telefone voltou a tocar. Dessa vez, a voz do outro lado não era envolvente nem sedutora.
— Conhece fulano de tal?
Ela hesitou.
— Sim… Conheço.
— Antes de entrar em coma, disse que você era a única coisa que ele tinha no mundo. O quadro é grave… múltiplas fraturas, hemorragia torácica...
A garrafa tremeu em suas mãos antes de encontrar sua boca. Engoliu o uísque sem respirar, largou tudo e correu porta afora.
Embriagada pelo álcool e pela notícia, tropeçou nos próprios pés e despencou escada abaixo.
Os vizinhos acordaram com o estrondo e, nos segundos seguintes, ouviram os últimos suspiros de uma mulher que, apesar do dinheiro, nunca soube o preço do amor verdadeiro.
Porque sim… Ele era um cafajeste, um pilantra. Mas não havia outro que soubesse tratar uma dama como ela merecia — ou, pelo menos, como seu dinheiro podia pagar.
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Autor:
C.araujo (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 1 de março de 2025 14:17
- Categoria: Conto
- Visualizações: 3
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