Entre o Ir e o Ficar

Vendes teus sonhos aos ventos distantes,

como folhas que caem sem saber para onde vão.

Espalhas memórias em móveis ausentes,

como se a casa não fosse mais teu chão.

O espelho te olha sem reconhecer-te,

os olhos cansados, a pressa na voz.

Dizes que partes, mas tremem as mãos,

como se o adeus pesasse feroz.

Quem te espera não traz primavera,

não pinta futuros com cor de luar.

Tens pressa em partir, mas o peito te implora,

se ainda há dúvidas, por que não ficar?

Mas ouve, amor, o eco do tempo,

há sombras que chamam sem luz no olhar.

Há braços que prendem, promessas vazias,

um laço invisível que insiste em sangrar.

E eu aqui, onde a brisa é sincera,

onde teu riso ainda pode morar,

onde o amor não se vende, não pesa, não fere,

onde há tempo de se encontrar.

Se fores, que seja por escolha tua,

não por correntes que teimam em te arrastar.

Mas lembra: certos caminhos não têm retorno,

e nem todo lar espera no mesmo lugar.

E se um dia, perdida no vento,

sentes que o mundo te fez naufragar,

saberás que, mesmo entre sombras e medos,

há amores que nunca deixaram de amar.