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Nasci em um lugar escuro, e, cedo demais, meus olhos se abriram.
Sem um suspiro, sem mover um fio de cabelo,
Encarei o horizonte — olhos inchados,
como se o próprio mundo chorasse por mim.
Mãe, sabia que ali as armas já estavam postas à mesa?
Que, antes mesmo do meu primeiro pensamento,
O jogo da existência havia começado —
E eu nem ao menos sabia as regras?
Acredite, o pior pesadelo não é parar de existir, é passar a existir.
E, ao existir, ser condenado a questionar o porquê de existir.
Não somos errados por cometer injúrias, somos errados por reproduzirmos injúrias.
Não estamos vivendo para sobreviver, estamos vivendo para tentar proceder.
E, mãe, quando minhas cinzas mergulharem no leito do rio,
Minhas últimas palavras serão apenas vestígios,
Migalhas da minha efemeridade,
Afundando na correnteza do esquecimento.
Quero abdicar do glamour da vida, pois essa é apenas a ilusão infeliz daqueles que existem;
Por isso, peço-te, mãe, me enterre nesse exato momento... Enterre-me o mais cedo possível...
Antes que eu crie consciência da minha própria presença —
E que, assim, eu possa permanecer em paz...
Para sempre... Talvez...
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Autor:
victoremmanuel (
Offline)
- Publicado: 21 de fevereiro de 2025 21:16
- Comentário do autor sobre o poema: O monólogo de um bebê
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 2
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