ENIGMAS SEM NOME

Charles Araújo

ENIGMAS SEM NOME

 

Não tenho nome, mas sou o grito que o vento não cala,  

a cicatriz que o tempo tentou apagar, mas não se apagou.  

Sou a rachadura na rocha que nunca cedeu,o silêncio que não se curva ao estrondo. Fui aquele por quem as águas se abriram,por quem o sol ardia sem piedade,  

e o céu se rasgou, não para destruir,mas para anunciar o inevitável.Sou a chama que arde sem jamais se consumir,  

o andarilho que atravessou eras sem se perder,e ainda assim, permaneço,não como um escombro

mas como uma faísca que acende o futuro.  

Onde diziam que não havia caminho, eu criei um.  

Onde ergueram muros, eu os fiz ruínas.  

Fui lançado ao exílio, mas fiz do deserto meu templo.  

Toquei coroas sem jamais me dobrar,  

porque não sou servo do que desmorona com o tempo.  

Vi deuses erguidos sobre tronos de areia,  

coroas forjadas em ouro falso,  

idolatrados por vozes que ecoavam medo e servidão.  

Mas a chuva veio,  

e os rostos esculpidos em pedra dissolveram-se como pó.  

Os que juravam reinar sobre tudo  

se tornaram preces esquecidas na boca dos desesperados.Vi reis ajoelharem-se diante de suas próprias fraquezas, implorando ao tempo para não pagá-los.E eu segui em frente, porque nunca precisei de um altar para saber quem sou.  

 

As taças do passado estilhaçaram-se,e dos cacos fiz armas não para ferir,mas para cortar as amarras que tentaram me prender.Olhei no espelho dos destroços  

e vi um homem que não recua,não se rende, não se vende.  

Já segurei mãos que tremiam de promessas vazias,  

senti o frio daqueles que juravam ser chama.  

Vi a mentira ser esculpida com a delicadeza de um artesão,  

cada palavra polida até brilhar como verdade,  

cada engano bordado com fios de seda.Mas a seda rasga,e sob a beleza do engano Só restava o vazio.  

Os falsos juramentos caíram com o peso da própria falsidade, os alicerces ocos ruíram com o primeiro sopro da verdade.E eu não fiquei entre os escombros.  

O que era raso afundou. O que era mentira se desfez.E eu segui. Carrego em mim a inquietação dos que nunca aceitam menos, a sede dos que não se conformam,  

a urgência dos que sabem que a vida não espera.  

Já encarei o céu em silêncio e entendi:  

Há coisas que homem algum pode arrancar de mim.  

 

Não me prendo ao que o tempo apaga, nem me curvo a certezas frágeis. Sou o que se molda, o que se recria, o que nunca se perde. Aprendi que riqueza não é ouro,  

mas a verdade que se carrega nos ossos. Nada sou, e por isso sou livre. Provei do amargo e do doce,  

não como quem se entrega,mas como quem devora cada instante com fome de quem nunca para.  

E diante de toda tempestade e de todos os homens,  

direi sem hesitar:Fui brisa, fui vendaval.Fui ao abismo e voltei ao cume Fui ferida e cura. Mas jamais fui um medíocre covarde Sou um eterno passo adiante,  uma pergunta que não tem resposta.

 

 

  • Autor: C.araujo (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 20 de fevereiro de 2025 08:44
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 1


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