Fragmentos do Impossível

khali

Havia uma linha tênue entre o que era e o que poderia ser. Um abismo silencioso entre o que se oferece e o que se recebe. As palavras, por um instante, criaram uma ponte, mas logo se dissiparam, como um eco sem resposta em uma caverna profunda. Ela, em sua dor, me viu como um reflexo de algo que precisava descobrir, e eu, em minha confusão, vi nela algo que ainda não sabia que estava buscando.

 

Eu era um rosto novo, uma possibilidade desconhecida em um lugar onde nada parecia certo. Mas ela, carregando o peso de um amor antigo, me olhou com olhos que diziam mais do que o silêncio entre nós poderia traduzir. Como se, na minha própria desordem, eu tivesse me tornado um espelho para o caos que ela carregava. E ali, entre conversas interrompidas e gestos que não encontravam direção, criamos um laço que não sabíamos se era real ou apenas uma miragem de algo que nunca seria.

 

Então, no meio do turbilhão, o jogo virou. Palavras lançadas ao vento foram distorcidas, como se o ar já estivesse contaminado por algo que não sabia como nomear. Ela me deu o que achou que queria e depois, sem aviso, me retirou. Como um reflexo quebrado, me vi em pedaços que ela não soube ou não quis juntar.

 

E então, como se nada tivesse acontecido, ela me olhou de novo, dessa vez com um pedido que vinha de um lugar de dor e arrependimento. Mas algo me dizia que o retorno não era um reencontro, e sim mais uma tentativa de preencher um vazio, de testar limites, de se recuperar de um desgosto passado. Como se, ao olhar para mim, estivesse tentando ver se o novo poderia substituir o que foi deixado para trás. Percebi que, no fim, estava sendo observada como alguém que ela precisava enxergar para encontrar uma resposta que não sabia como achar dentro de si mesma.

 

Mas eu sabia. Sabia que a verdade estava em outro lugar, em uma fresta onde promessas vazias não podiam se esconder.

 

E quando, no último ato, ela tentou me alcançar, eu já não estava lá para recebê-la. Não por orgulho. Não por desdém. Mas porque o que eu queria dela não era o que ela estava disposta a me dar. Queria que ela se visse sem as máscaras que criara. Queria que entendesse que podia ser mais do que a história que contava a si mesma. Porque, no fundo, eu sabia: ela estava tão presa em sua própria confusão que nem sequer via as correntes que a amarravam.

 

Houve momentos em que a conexão entre nós pareceu possível, mas em outros, desfez-se no ar como um fio invisível. Então compreendi: há pessoas que nos ensinam mais no silêncio do que em suas palavras. E talvez, no fim, tenha sido isso o que aprendi com ela. Não o amor que poderia ter sido, mas a lição que veio sem aviso. A lição de que, às vezes, as relações que nos marcam não são as que nos completam, mas as que nos fazem enxergar as partes de nós que ainda não conhecemos.

 

Agora, tudo que resta é o eco. O eco de algo que nunca se concretizou, mas que, ainda assim, se inscreveu nas linhas invisíveis da minha alma. Ela talvez nunca saiba o quanto me tocou, mas isso não importa. O que importa é o que ficou em mim depois de tudo isso. O que importa é o que deixamos para trás, o que aprendemos quando não há mais palavras, apenas o peso do que não conseguimos explicar.

  • Autor: khali (Offline Offline)
  • Publicado: 12 de fevereiro de 2025 03:16
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 5


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