Estava comigo todo o tempo
Brincávamos de inventar estórias
Tínhamos uma esperança milagrosa
Quase impossível...
Cada coisa que víamos
Era coisa única
Da natureza, ao respirar da vida.
Tudo era exótico aos nossos olhos
A sensação de sermos parte
de termos a posse um do outro
era nosso maior tesouro.
Mas durante uma tempestade
Veio o vento da separação
Olhei para a grande tormenta
E quando virei de volta
Ele já não estava mais lá
O desespero veio a tona
e me jogou pra fora de mim
quase explodindo meu coração.
No tempo que veio depois
Não havia coisa alguma
Além de inquietação.
meus olhos faltaram ao mundo
seus olhos faltaram aos meus.
Aos perdidos dos que se perderam
digo que entendo a sua dor
perder-se do que ainda é vivo
é a permanência da aflição
É andar por estrada inesperada
e ver em tudo o rosto de quem se espera
na noite que vem , no dia que nasce
Na solidão, vê se o sonho
Na multidão a esperança.
Aos que se perderam
E agora vivem no limbo
Da possibilidade do encontro,
vocês estão no abraço de tudo
entrelaçados em cada gota de orvalho
que cai na vertiginosa noite
da grande e infindável procura.
estejam atentos aos olhos sedentos
para que não passem despercebidos
uns ao lado dos outros
mantenham o coração sentindo...
Enquanto sofria de ausência
eu via o mundo sem cor
gritava a minha saudade em silêncio
o tempo passava, mas não passou
a vida seguia mas eu fiquei
o dia nascia e eu não via a luz
o sono vinha e eu não não dormia
Corria os dias e tudo era lentidão
Pedi aos santos, pedi a terra
pedi ao tempo, pedi ao universo
pedi a Deus , pedi ao filho
pedi a ciência, pedi a máquina
pedi aos homens , pedi a lei
pedi ao que era possível pedir
pedi ao improvável.
E numa impossibilidade de ser
ouvi uma voz de dentro de mim
- Vem por aqui...
- Vem por aqui , repetiu a voz
e eu não via o caminho...
e não via nada e nada...
Até que vi...
Ao lado, uma nuvem terrena
uma fumaça branca e dentro dela
meu próprio rosto eu via...
Não sabia se ia, se acreditava...
certamente era uma ilusão
uma voz que era minha,
como se me enviasse pra dentro de mim.
Sem nada mais a perder , fui
querendo não encontrar
mais uma decepção...
Respirei profundo, perdi a noção
como quem aceita a morte
em seu destino final,
fui abraçado ao perigo
vestido de súbita coragem
e me entreguei ao acreditável
e o acreditável me levou ao túnel,
onde tudo era possível
A voz dizia a todo tempo
- acredite...acredite..acredite
obedeci sua ordem e fui
mas por mais que eu visse
era quase impossível, acreditar.
Uma lua feita de flores
reluzindo num céu de fogo
um homem cavalgando um Dragao
enquanto eu pisava em diamantes
um rio num arco íris
subiu na imensidão
muito mais que sete cores tinha
muito além da imaginação.
Uma mão que podia curar corações,
uma folha que tocava o rosto
da desilusão.
Um amor que acorrentava o mal
com os braços da amplidão.
Depois entrei , a esquerda
no caminho das letras aflitas
estavam em desolação
procurando umas as outras
numa eterna conjugação
se encontravam se despediam
se ordenavam em palavras
em frases , em textos , em livros
lições ensinavam ,lições aprendiam
olhavam pra mim
e não me entendiam
passavam ao lado, me acolhiam
e me alucinaram aínda mais
me levavam a outras vidas
me traziam de volta
Por meio delas eu vi, outra realidade:
pessoas sorrindo , pessoas chorando
pessoas doentes, pessoas curando
pessoas nascendo , pessoas morrendo
pessoas perdidas , pessoas procurando
Foi quando me vi inteiro
no rosto de quem procurava
e a voz trovejou uma pergunta:
- Qual o nome de quem procura?
- Poeta - respondi de uma vez.. depois continuei:
Meu amigo poeta,
parceiro das horas sombrias
que junto comigo via
tudo que em tudo havia.
E a voz disse Com mansidão :
- Pobre de ti meu irmão
que não se perdeu de ninguém
apenas parou de ver,
o outro lado de você...
Parou de acreditar , na força da sua fé
Parou de escrever o verso
que ilumina a escuridão
Parou de enxergar o céu
Parou de descrever o brilho
Deixou a dor te doer
Parou de sorrir ao mundo
a sua felicidade.
Parou de explicar aos homens
a dura humanidade.
Você veio pelo caminho
por onde vem o poeta
veio com as roupas do homem
Do homem que também é
e trouxe contigo a angústia
que todos temos também
mas, tem na linguagem o poder
de transformar o pensar,
de revolucionar o viver
de ensinar o amor.
e sendo você o poeta
já pode se reencontrar
e pode se renascer...
Antonio Olivio
-
Autor:
Antonio Olivio (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 8 de fevereiro de 2025 18:49
- Comentário do autor sobre o poema: Ao poeta que está comigo , quer quer salva o mundo mas antes precisa me salvar de mim
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 14
- Usuários favoritos deste poema: Melancolia...
Comentários3
Bela mensagem contida no seu poema. Parabéns!
Lindo, meu irmãozão em letras...! Tá aí a expressão a luta rotineira do eu-lírico e seu 'alter ego' poeta pela construção ou 'desconstrução' dessa realidade cinza... e pelo desejo de que a poesia com mais essa sua linda 'epopeia' rompa sozinha o pão do céu na terra! Um bom domingo, meu irmão em letras! Parabéns!
Bravo...
Palmas.
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