Eu escrevo sentado sob a sombra do abacateiro,
O dia é quente e sinto o chão morno, mesmo à sombra.
Minha mente voa em outros tempos, lembro do menino,
Fantasiando a vida, pois era a forma que se mostrava.
Nosso crescimento nos desprende da magia,
Nos adequa ao meio ao qual precisamos pertencer.
Comigo aconteceu diferente, pois algo, depois de um tempo, voltou a bater:
Este menino, que para minha surpresa ainda estava comigo,
Quer sair e sorrir, voltar a viver.
Pobre criança, onde hoje não há mais espaço para brincar,
Meu tempo para este menino são pequenos intervalos.
Ele, triste, senta-se em um canto da mente e chora quietinho.
Explico-lhe que preciso manter a nós dois, e para isso preciso ser adulto.
O garoto não entende e me enche de insultos.
Faço-lhe uma promessa de o deixar brincar na próxima primavera.
Ele anseia, mas temo que ele não queira voltar ao seu lugar quando precisar.
Do jeito que é, sei que irá se afastar, pois não sente medo,
E depois de solto, é bem difícil de capturar.
Saltará pelas árvores e dançará na chuva, mesmo que fria.
Querido garoto do meu tempo de harmonia,
Queria jamais ter lhe abandonado e deixado no escuro.
Volta pequeno, sai de cima deste muro.
Arthur Mello Noos
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Autor:
Arthur Mello Noos (
Offline)
- Publicado: 8 de fevereiro de 2025 00:55
- Comentário do autor sobre o poema: Sobre o garoto que tenho saudades de ser.
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 7
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