Há um vazio profundo em amar sem ser amada de volta. É como gritar num deserto onde o eco das próprias palavras se perde no vento, e o silêncio que retorna é um lembrete cruel de que o coração que oferecemos permanece intocado, inalcançável. Não há gesto, nem palavra que faça o outro ver-nos como nós o vemos. E, ainda assim, continuamos a tentar, a insistir, como se o amor que sentimos fosse o suficiente para preencher a distância que nos separa.
A esperança, teimosa, faz-nos acreditar que talvez um dia algo mude. Observamos cada movimento, cada sorriso, em busca de sinais que nunca chegam. Vestimo-nos de ilusões, inventamos momentos que só existem na nossa mente, e deixamo-nos consumir pela expectativa de um toque que nunca virá. Amar alguém que não nos ama de volta é caminhar numa estrada solitária, onde cada passo parece mais pesado, como se o peso do nosso coração nos puxasse para o chão.
As horas passam lentas. As noites são longas e inquietas, repletas de pensamentos que rodopiam sem rumo, tentando encontrar um sentido para o que não tem explicação. Porque é que o coração se apega tanto a alguém que não o deseja? Porque é que insistimos em amar quando sabemos que a dor é a única recompensa? Talvez seja a natureza do amor não correspondido – ele vive na esperança, mas alimenta-se da dor.
"São chagas abertas,
Que jamais cicatrizam,
Pois o amor que não volta,
Deixa feridas que não fecham."
Essas chagas, invisíveis para o mundo, mas tão presentes em nós, marcam cada dia, cada suspiro. São feridas silenciosas que carregamos com uma estranha mistura de orgulho e tristeza. Orgulho por termos sido capazes de amar com tanta intensidade, tristeza por termos dado tanto e recebido tão pouco. O amor, por vezes, é um campo de batalha onde só há um lutador. E, naquele campo deserto, o único som é o bater solitário do nosso próprio coração.
O mais difícil é perceber que, por mais que façamos, não podemos mudar o que o outro sente. O amor não é uma troca automática, não se desperta com força, nem se ganha por insistência. E essa é a maior crueldade de amar sem ser amada: dar tudo de nós mesmos e, no fim, ver as mãos vazias, como se nada tivesse realmente mudado.
Mas, apesar das chagas, apesar da dor e da ausência de reciprocidade, há uma beleza estranha no ato de amar. Mesmo quando não somos amadas de volta, o facto de termos a capacidade de sentir algo tão profundo e verdadeiro mostra a imensidão do nosso próprio coração. Amar é, afinal, uma expressão de quem somos, e às vezes, o amor maior é aquele que conseguimos oferecer sem esperar retorno.
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Autor:
Filipa (
Offline)
- Publicado: 1 de fevereiro de 2025 23:31
- Categoria: Amor
- Visualizações: 6
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