Reclusão íntima

Seguro firmemente teus cabelos molhados

Enquanto em teus ouvidos pronuncio nuances de amor e desejo.

Tateio teu corpo nu como um cego curioso e maravilhado

Em teu universo toda minha vontade despejo.

Explodimos como a tempestade liberta das nuvens

E não sabemos mais se estamos no mesmo dia ou em outra vida.

Lançamos ao tempo parado as palavras sonhadas e selvagens

Realidade que brota teimosa por debaixo da cama colorida.

Ignoramos mais uma vez as horas ou o que nos afasta

E quando as palavras se esgotam e o silêncio canta

Adormece em meus braços com lábios entreabertos e beleza vasta

E através dos pelos amarelos belos campos de trigo

Em teus vales formosos meu olhar decanta

E sou novamente um menino.

Arthur Mello Noos