D E N S ’ I D A D E

Marcelo Veloso

Os janeiros chegam para todos que estão vivos,

e sempre haverá um instante para se desfrutar deles,

mesmo que sejam enviesados de incerteza.

Os sonhos se tornam referenciais de atrativos,

numa medida recheada de boas lembranças,

ou de esquecimentos, retratados pela tristeza.

 

A força do hábito ajuda a pensar no passo a ser dado,

sustentando a rotina ou a inconformidade,

e aquilo que parece ser tão difícil, dá-se como uma reflexão.

A estrada que se abre para o caminho da vontade,

tem, na sua extensão, um indicativo de desejo,

que pode ser pleno ou cheio de buracos de aflição.

 

A serenidade, tão formal, se torna prosaica,

junta pedaços e cacos, numa construção de objetivos,

criando, como alicerce, um arrojado comportamento.

E, entre anseios, ensaios, experiências, obras e atitudes,

o registro passa pelas veias de um coração obstinado,

fazendo do costume e da singularidade, o melhor assento.

 

As brincadeiras mostram um contraste aparente,

com o lúdico ganhando uma roupagem controversa,

fazendo o humor ficar insosso, enfadonho e sem pujança.

O expor das intenções, ainda que subjetivas e melindrosas,

e, mesmo tendo a repetição como um ingrediente amargo,

coloca, sutilmente, no colo da saudade, um fio de esperança.

 

O passado exibe uma imagem abstrata de sentimento,

e o futuro, um condicionado apurar de emoção,

jogando nos braços do presente, o que se tem de mais puro.

As rugas se transformam em marcas de um cenário lânguido,

que, junto às conveniências do tempo e do lugar,

criam bases para a fixação de um inusitado porto seguro.

 

O juntar dos pensamentos vira um depósito,

que vai se transformando num emaranhado de significados,

colacionando figuras, paisagens, gravuras e pretextos.

A rapidez das atitudes torna-se em paciência silenciosa,

mesclando o juízo psicológico com o físico renitente,

tudo isso, para se chegar a um regalado contexto.

 

O olhar distraído se torna uma vista cansada,

e o esquecimento se confunde com falta de interesse,

e tem como sentença o rigor do desvario.

Condensado com a fragilidade do compasso de espera,

o movimento se enreda com a falta de zelo,

e a gentileza trocada, expõe um tedioso desafio.

 

Diante de uma ilustrada encenação de convívio,

brota uma frustração de abandono severo,

e a força da união, tão enriquecida, deteriora.

O jeito e o conceito são alinhados como peças de repulsa,

que vestem o isolamento, a apatia e a indignação,

assim, o descanso atropela a suficiência: - é chegada a hora!

  • Autor: Marcelo Veloso (Offline Offline)
  • Publicado: 24 de janeiro de 2025 15:55
  • Comentário do autor sobre o poema: A idade é um escopo do tempo e a sua densidade nos prende a um trilhar de rumos, que nos capacita, a sugerir que a "densa idade", quando juntado os termos, permite escrever sem ver defeitos e sem ter cobranças. Acho que quase acertei, faltou pouco para chegar ao que eu queria, com esse poema.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 6
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Comentários1

  • victoremmanuel

    Um poema cheio de significados.

    O que eu compreendi foi o seguinte:

    O janeiro (início do ano) representa a esperança e a renovação, o mês que representa a transformação, o esquecimento de "coisas" velhas; é o momento de buscar novos objetivos.

    Com o tempo, o rigor, a concentração, as tentativas e erros vão se acumulando. Seu objetivo (desejo), que no início era apenas uma vontade, começa a apresentar inúmeros desafios (até mesmo impensáveis).

    Alguns irão atravessar esse caminho árduo, enquanto outros irão ceder e "abandonar o barco".

    Com o tempo, seus esforços vão aparecer, se mostrar significativos. Os pensamentos até então desenvolvidos começam a mostrar suas utilidades.

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    Eu ainda entendi que esse poema vem com uma segunda parte, a qual se refere à passividade. Aqueles que abandonam os desejos vão, aos poucos, os esquecendo. Esse esquecimento pode até se confundir com falta de interesse hora ou outra. No fim, a pessoa que se rendeu poderá esperará, mas não irá encontrar resultados enquanto continuar passivo. E, para aqueles que não atravessaram esse duro caminho, a recompensa não vem, pois não possuem o suficiente para se mostrarem úteis.

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    Pelo que entendi do termo "densa idade", esse poema foi sendo formado sem seguir um rigor de pensamento, então ele é puro em sua essência, possuindo apenas os vestígios de pensamentos passageiros e introspectivos do poeta.

    Eu tenho um estilo parecido. Creio que isso ocorre quando o poema ganha vida e, no decorrer do processo produtivo, se liberta de seu criador, se tornando um ser único e singular.

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    Adorei o poema!


    • Marcelo Veloso

      victoremmanuel, obrigado pelos comentários. Gostei da interpretação, foi bem propositiva e pontual. Abraços.



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