Num sufoco intermitente, maldito ouvido consciente.
Perco-me num choro trancado, desabo internamente.
A cusquice mata, não mentem.
Porque ouço o meu nome a sair de bocas alheias.
Apontam-me os defeitos, destacam inseguranças de forma persistente.
E a vontade de chorar. De me esconder. De mudar.
Corre como lágrima de sentimento culposo, envergonhado.
E suplico a alguém que me deixe gritar, imploro a Deus pela satisfação de me libertar.
Mas ninguém me consegue ouvir, porque as palavras mudas soam distantes,
como um eco barulhento, reflexo repetitivo de todos os meus desgostos.
Até que se acabam por dissolver, num falar novo.
Angústia e agonia, que juntas tão bem ficam,
uma dolorosa sinfonia.
E sufoco.
Entre mudanças de conversa, saídas inconvenientes, sorrisos colocados,
tudo pensado de forma inteligente, para que ninguém notasse.
Porque na verdade, sinto uma aguda claustrofobia transparente, ninguém a nota,
mais ninguém a sente.
Ninguém me salva deste martírio persistente.
E em menos de minutos, estou estática, não me consigo mexer,
sair do desconforto de mil olhares inexistentes.
Criados pelo amplo universo da minha mente, que só me quer lixar.
Mal ganho coragem, levanto-me numa pressa desesperadora,
para que ninguém repare que me importo, para que ninguém se ria daquilo a que me apontam.
E de repente, estou mais uma vez no conforto de uma casa de banho trancada.
Apenas eu, e o alvoroço de uma mente perturbada, e o eco de duas palavras evidentes.
Eu. Sei.
Eles sabiam, e eu mentia a mim mesma, afirmando que ninguém percebia.
Só me quero esconder.
E estou eu naquela casa de banho, uma pobre rapariga, numa
enchente de lágrimas que corre em cascata, desesperada por uma nova vida.
Mais tarde, volto ao desconforto familiar.
Com sorrisos falsos, humor copiado.
Que mal fiz eu para pagar tantos pecados?
E entre sorrisos cinzentos, olhos afundados,
são os falares alheios que retomam à tona
assuntos que julgava já se terem afundado.
- Autor: Dhalia ( Offline)
- Publicado: 27 de dezembro de 2024 01:38
- Categoria: Triste
- Visualizações: 6
Comentários1
Muito bom. Agora tem alguém te ouvindo.
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