Idéias

Hoje eu senti quase que uma dor, uma dor física, como se eu realmente existisse de fato. Como se tudo fosse nada, e eu vagasse entre o corredor escuro em que moro, em busca da porta que abriga algo em que enfim confiar.

Um cubículo mobiliado de idéias fúteis e essenciais, uma poltrona que aguardando o fim do dia, te recebe em silêncio, e te proporciona o combustível para alcançar o pensamento inegável. De ser de alguma forma diferente.

Separado, desconectado, incompreendido, especial? O que me faria especial? Um qualquer pode ler os livros que leio, qualquer um consegue ouvir as músicas que ouço, qualquer idiota aprende a tocar um instrumento. Mas por que ainda assim me sinto tão desconexo quando tento ser uma pessoa comum?! Quantos de mim existem pelas ruas, e quantos de mim existem em mim.

Quando é madrugada e eu não consigo sequer fechar meus olhos, quando caminho na chuva sem me preocupar em me molhar, quando me entrego de novo a uma paixão vazia. Tudo o que me faz comum e eu tento evitar me achando especial, me torna cada vez mais apenas homem.

E o nada é tudo afinal, nada mais te prende ao mundo a não ser as ideias, e ideias são armas mortais, são esperanças infindáveis, são a perdição dos comuns. Por isso ter a ideia de não ser comum é tão presente aos poucos que não se importam com fatos não consumados que não podem controlar.

Aceitar o inevitável, se perguntando o porquê de ser assim, de pé em frente ao pôr do sol, sería fácil aceitar que as coisas acontecem porque devem acontecer. Algo tecnicamente inexplicável sempre nos leva a pensar que exista algo mais, momentos de ilusão, ilusões nos dão vontade de viver mais um pouco.

Mas só eu faço tudo errado, só eu sou incrivelmente bom em algo, só eu me vejo no espelho, só eu sou um bom amigo, eu apenas, decepciono quem amo, desisto do possível, sonho com o inalcançável, eu apenas, tracei o curso de acontecimentos que me trouxeram até aqui, só eu posso ouvir meus pensamentos, tomar minhas decisões, só eu posso viver por mim.