O carrasco não é frio,
muito menos, é mau.
Ele é pai de família,
assalariado, funcionário público.
Verifica o bom estado
da cadeira elétrica
e vai buscar o condenado.
O carrasco é contra a pena de morte,
só não é totalmente
por causa do emprego.
Ele sabe que já matou inocentes.
Sabe das mães chorosas.
Sabe que a morte é igual
para inocentes e culpados.
Sabe que até o último momento
existe uma esperança,
por imperceptível que seja.
Sabe que o medo é disfarçável
e quase invencível.
O carrasco conhece
o pavor dos homens
frente à morte.
Sabe que ao menos
intimamente
todos imploram.
Ele não é frio,
mas sua obrigação
é ser frio.
A tarefa do carrasco é cruel,
não ele.
O corredor da morte arrepia
o carrasco.
O carrasco sabe
que não existem
últimos desejos.
Às vezes, uma lágrima
do carrasco
o condena.
Que vontade ele tem
de mostrar que é um homem,
antes de ser carrasco,
mas um homem tem família
e o emprego exige um carrasco.
O carrasco quer compaixão
da sociedade que o criou.
O carrasco foi tornado infeliz,
condenado morte a morte.
Porém,
o carrasco aprendeu
a viver cada momento
como o primeiro,
e deixar o último para morrer.
- Autor: eduardo cabette ( Offline)
- Publicado: 23 de dezembro de 2024 15:16
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 4
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