Os números na tela.

Daniel Lipski



Recebo a mensagem no celular
"Sobreaviso acionado"
Engole o café sem engasgar
o uniforme pronto ao lado


E os números na tela 
não deixam sossegado


Seis em ponto, ponto batido
Mais um sábado sem descansar
primeiras horas, ainda contido
Só esperando o pior chegar


E os número na tela
não param de aumentar


Seis horas passaram rápido
cansado, chegou a hora de ir
mas o turno foi estendido
mais umas horas a cumprir


E os números na tela
não param de fluir


Depois de mais quatro horas
a cabeça já está latejando
já não sinto direito as costas
e as pernas estão formigando


E os números na tela
continuam calejando


Foram quatorze horas de luta 
com o trampo e comigo mesmo
Mas assim o dia se completa
sanidade nula e corpo lesmo


E os números na tela
continuam caindo a esmo


Mas, já chegando na saída
Meu chefe me interpela sorrindo
"Posso contar contigo amanhã?
Estamos com pouca gente para o domingo."


Porque os números na tela não param 
nem enquanto eu estou dormindo


Tem dias que a noite é foda.

  • Autor: Sanitário Masculino (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 8 de dezembro de 2024 09:48
  • Comentário do autor sobre o poema: Em meio a discussões sobre a escala 6x1, passei por essa situação. Trabalhei 14 horas no sábado e, escalado para domingo. Nenhum dia de folga em 7. Na prática, minha escala essa semana foi 7x0. Sei que ninguém tem nada a ver com isso mas, preferi descarregar na arte que na orelha do meu gerente. Desculpem mas, apenas um desabafo sincero de um ser cansado que, por mais que ande, não enxerga a luz no fim do túnel. Só com o ensinamento da magnífica filósofa DORY: "Continue a nadar"
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 9


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