O único refúgio é a caverna, onde, hibernado, posso sangrar sossegado;
Pouca luz, medos, sede e fome.
Fome de quê?
Não se sabe. Parece um lugar perfeito diante da morte.
Feridas nos pés, tantos tropeços.
Saltos que falham, quedas dolorosas,
Tentativas vãs de alcançar as cordas da salvação que nunca chegam.
Melhor parar!
Sentado na penumbra da impercepção, o urro escapa:
"Apressa-te a me tomar, ó loucura!"
E os olhos se precipitam, jorrando de dentro o inexprimível:
O clamor pela Égide.
Algumas luzes emprestadas trazem conforto;
Me tocam, me abraçam, sou grato.
Contudo, é custoso levantar!
As horas, ou seriam eras? passam com tal densidade,
Que me arrastam ao núcleo do chão, esmagado por sua gravidade.
As costas estão curvas, a mente me trai e sussurra:
"Não dá mais."
Como ousa escravizar-me, ó mente insana?
De todos os que sofrem, gemem e habitam a caverna,
Sou eu o que mais sofre? Não vês?
Eu vejo você!
Neste, nesse e naquele instante,
Visito-te com meu âmago, meu fôlego, tudo o que sou.
Busco, na minha falha e ávida sagacidade,
Chegar ao lugar onde estás.
As falsas bagagens — Pai, adulto, evoluído
Deixo ao chão.
Lembro-me da trilha escura que me trouxe até aqui,
Do cheiro do sangue que verti.
E, assim, me aproximo.
Não é simples.
Parece uma soma trivial, dois mais dois,
Mas é uma Equação Diferencial:
Um monstro a decifrar.
Névoa gelada, nosso duplo divã.
Vamos começar pela primeira linha?
Meu abraço, aquele que eu quis tanto:
Minha visita pela tarde — ah, como a desejei!
Com um pouco de unguento nos pés e uma sopa quente para afastar o frio.
Mas ninguém me trouxe...
Não!
Não precisa ser hoje!
Amanhã? Talvez.
Vamos para a segunda linha no momento único e exato.
Sinto sua dor, seu cansaço.
E, se necessário, ficamos na primeira linha.
Faremos valer este momento:
Ouvir-te e estar contigo,
No lugar onde ninguém ousa ir.
Encarar suas tralhas, dores e angústias.
E delas chorar, sem me sobrepujar.
Eu te vejo!
É hora de tirar os sapatos, dividir a pouca água
E compartilhar a sopa na mesma cumbuca.
A ansiedade de alcançar a última linha é compreensível,
Resolver a equação…
Mesmo que leve várias páginas,
Mesmo que erremos,
Mesmo que não simplifiquemos corretamente.
Ainda que o preço seja alto,
Que tenhamos que atravessar passagens longas ou infinitas…
Quero estar!
Ele bebeu a água, deu-me a mão e sorriu.
Por Sandro MS Lino
- Autor: SM Lino ( Offline)
- Publicado: 5 de dezembro de 2024 15:49
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 3
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