A última carta

Na verdade, esta carta é um pedido de desculpas.

Nada foi planejado; o acaso fez pouco caso dos meus planos.

Ele simplesmente se apoderou de tudo aquilo que eu mais temia

e de todas as singularidades que nossa amizade exibia.

Gostaria de não estar aqui,

transformando em verdade

o que venho tentando estancar há tanto tempo.

Acabo demonstrando o fracasso

que foi minha luta contra o meu coração.

Tentei ressignificar os sentimentos,

ressignificar as emoções, as ligações e os sonhos.

Mas falhei miseravelmente.

Foi exaustivo e frustrante.

Ele entrou fazendo bagunça, sem pedir licença,

tomou conta de tudo que guardo aqui dentro.

Talvez o amor tenha mesmo esse tom de petulância.

Ele não nos deixa escolher quem fica;

apenas se acomoda e permanece...

o tempo que ele achar necessário.

Tememos o desconhecido, mas, neste momento,

juro que temo quem eu mais conheço: você.

Eu só não queria te perder para mim mesma.

Mas não vejo outra saída, preciso me desprender desse sentimento.

E é triste, porque agora sei quando será a última vez que nos veremos.

(a maioria das pessoas vive sem saber)

Meu Deus, eu realmente sinto muito, e dói tanto...

Sinto te amar, muito além do que eu quisesse e devesse.

Por isso, esta carta é um pedido de desculpas e de adeus.

Esse sentimento não pode ser unilateral;

senão, ele se torna um monstro acorrentado que se interpõe entre nós.

Deixaremos de ser quem somos e nos tornaremos dois estranhos.

Virão incertezas, meias verdades, receios e uma amizade incompleta.

Estou partindo para que não destruamos o que construímos até agora:

A nossa cumplicidade, os dias em que choramos de rir juntos,

as vezes em que secamos nossas lágrimas, nossa parceria e companheirismo.

Espero que um dia possa me compreender...

e, quem sabe, me perdoar?

E, se eu ainda puder viver entre suas gratas lembranças,

assim como você viverá nas minhas,

eu já me sentirei verdadeiramente feliz.

Desculpe por amar você, como eu amo.

E mais ainda por decidir partir.