Sal de São José

Marçal de Oliveira Huoya

Nem
Lembra muito bem,
Por que ela voltou,
E quando isso aconteceu,
Lembra que foi numa manhã turva,
Um vento úmido trazia o verde,
Adivinhando a água quem tinha sede,
A terra seca pedindo chuva,
Coincidiu de ser este o dia,
Em que ela abriu a porta,
Mal se virou do sal de Santa Luzia,
Junto a imagem de São José,
E ela estava de volta,
Sorriso escabreado, a boca torta,
Parada, persignada, ali em pé,
A fé no que já tava pronto,
Coincidiu de ser este o dia,
Em que o açude se fartou,
Se encheu tanto e tanto,
Que no fim do dia sangrou,
Assim como pedira pro Santo,
E seu Santo não negou,
Coincidiu de ser este o dia,
Em que se aproximava a colheita,
A luta e a labuta finda da semeadura,
Quem plantou, agora se deita,
Imaginando dias de fartura,
A meninada satisfeita,
Coincidiu de ser este o dia,
Que tudo se pintou de toda cor,
Vermelho paixão, verde de vida,
Azul de sedução, amarelo de amor,
Tudo junto numa feira colorida,
Festa do interior,
Coincidiu de ser este o dia,
Em que tudo virou bonança,
Será que a coincidência adivinhou,
E ela voltou por esperança,
Assim que o estrume virou flor?
Pois mais coincidência foi o dia,
Que quando arrumou sua cachorra,
Pouca roupa, quase vazia,
Toda criação sofria magra,
Partiu maldizendo o mundo,
Lançando pragas e porras,
Que ali não era o seu lugar,
Ele viu tudo e respirou fundo,
E mais uma vez, na aridez,
Ela prometeu nunca mais voltar...

  • Autor: Vênus (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 22 de julho de 2020 13:57
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 14


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