Renúncia
Tenho matado tudo o que sinto,
até o poema que me fugiu nesta madrugada.
Tenho matado todas as minhas vontades;
matei o beijo que não lhe dei
e também aquele toque delicado
em sua face.
Matei meus dedos em teus cabelos longos,
matei o abraço apertado
em teu corpo macio.
Matei aquele seu olhar
que me deixou confuso
e a pronúncia do seu nome
em meus lábios.
Matei os planos que não fizemos,
todas as viagens,
os filmes que não assistimos,
a fuga que queríamos.
Matei nossas conversas amorosas
e a intimidade que não floriu.
Matei todos os meus sorrisos
ao pensar em você.
Hoje, chorei a manhã inteira
e afoguei, em cada lágrima,
isso que não nasceu em nós.
Leonardo Ramos
- Autor: Leonardo Ramos ( Offline)
- Publicado: 4 de novembro de 2024 12:28
- Comentário do autor sobre o poema: O poema começa com uma confissão amarga: “Tenho matado tudo o que sinto”. Essa frase inicial é poderosa e sugere um processo ativo e doloroso de negação. O uso do verbo "matar" transmite a intensidade do sacrifício e confere a cada gesto e desejo uma dimensão trágica. Ao invés de simplesmente reprimir os sentimentos, o eu lírico opta pela “morte” deliberada de cada um deles, o que dá a entender que renunciar a esse amor requer uma medida extrema e definitiva. A palavra "matar" aparece várias vezes ao longo do poema, reforçando o peso dessa escolha e transformando o processo em uma série de "homicídios" emocionais, onde o eu lírico aniquila meticulosamente cada lembrança, cada esperança e cada projeção do que poderia ter sido.
- Categoria: Não classificado
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