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Hoje escrevo para você, e confesso que nunca pensei que chegaria a este ponto. A verdade é que já não me resta muito mais do que palavras, e talvez nem isso. Andei por caminhos tortuosos, tropecei nas sombras e fui me perdendo, aos poucos, entre os dias cinzentos e as noites intermináveis. Há um cansaço que tomou conta de mim, como uma neblina fria que não se dissipa, e ele me trouxe até aqui, a este momento, onde sua presença parece inevitável e o anjo triste sempre a me acompanhar.
Eu te vejo, Morte, sempre à espreita, como uma figura silenciosa no canto dos meus olhos. Talvez eu tenha passado a vida toda fugindo de você, ou talvez, em algum momento, eu tenha começado a caminhar em sua direção sem perceber. De qualquer forma, agora não há mais como escapar, e não sei se ainda quero. A vida tem sido uma longa despedida, um adeus que nunca termina, e eu me sinto exausto de carregar tanto vazio e tanta angústia.
Sei que muitos temem sua chegada, mas para mim, você é quase uma amiga distante, uma promessa de descanso. Talvez seja triste pensar assim, mas o mundo se tornou tão pesado, e eu não encontro mais forças para suportá-lo. Você vem como um abraço frio, mas um abraço, ainda assim. Eu só espero que, quando nossos caminhos se cruzarem, você me receba com gentileza, como alguém que finalmente entende o fardo que carreguei.
Não há flores em meus dias, não há canções que embalem meu coração. Restam apenas memórias que se dissolvem lentamente, como se nunca tivessem existido. Não sou corajoso por te esperar, tampouco covarde por desejar sua chegada. Sou apenas alguém que não encontrou mais motivos para continuar. E talvez, ao fim de tudo, eu me torne uma lembrança esquecida, perdida em algum canto do tempo. E está tudo bem assim.
Por favor, não demore mais. Não quero prolongar esta angústia, nem quero que minha despedida seja amarga. Que você me leve, silenciosamente, para longe deste tormento, para onde os sussurros do mundo não mais me alcancem.
Anciosamente,
Um coração cansado
22 out 2024 (17:39)
- Autor: Melancolia... ( Offline)
- Publicado: 24 de outubro de 2024 16:39
- Comentário do autor sobre o poema: E, quando chegar o fim, será o meu fim....(em um momento triste...)
- Categoria: Triste
- Visualizações: 9
- Usuários favoritos deste poema: Melancolia..., Lim
Comentários1
Poesia do ultimo suspiro! Wow que despedida! e complemento: ‘Aqui jaz um coração que faleceu, que não deixou de amar, mas de bater e de sofrer a recusa do teu amar e do teu querer’. Parabéns meu amigo. abraços poéticos!
Dificilmente encontramos pessoas que conseguem abrilhantar mais ainda os escritos...
Abraços meu amigo...Seguiremos nos últimos suspiros....
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