Ele era quente e ela era fria

Odalila Sousa

 

Ele era alegre, sorridente, extrovertido, bem-humorado, digamos que bem com a vida.  

Ela era o contrário dele em tudo: triste, mal-humorada, arrogante, e com a vida? Ela não estava nem aí para a vida.  

Ele, cansado de buscar sua metade no dia, no sol quente, onde já estava acostumado a procurar, só via pessoas "iguais" a ele. Parecia uma rotina que ele não achava entediante.  

Então, ele teve a ideia de procurar sua metade em outro ambiente, bem diferente do dele: à noite.  

Bom, ele achou o ambiente lindo. Dava para ver as estrelas, que de manhã eram despercebidas.  

Ele se encantou pelo lugar; não tinha sol, apenas uma esfera bem brilhante naquele céu escuro, que depois ele descobriu que ela se chamava Lua, rodeada de estrelas que ele viu pela primeira vez.  

Depois de um tempo, ele a encontrou e criou expectativas inumeráveis.  

Ele fez canções, escreveu poemas, poesias e cartas — algumas decoradas e outras secretas — para ela. Eram simples, porém tão valiosas, feitas com tanto amor e carinho.  

Mas, quando elas chegavam, já estavam queimadas, e ela não entendia o porquê.  

Pensou que pudesse ser uma brincadeira de mau gosto. Então, todas as cartas ou qualquer outra coisa que chegasse à sua residência, ela mandava jogar fora sem sequer olhar.  

E assim ele continuou. Ele estava disposto até a mudar de ambiente por ela.  

Pena que ela nem o percebia; ele e o seu amor por ela pareciam como as estrelas de manhã: estavam no céu, mas não as vemos.  

Seu coração batia tão forte quando sentia o cheiro dela, quando a via, mesmo que de longe.  

Mas ela nem olhava para ele com o mesmo olhar que ele.  

Ele percebeu isso, e, mesmo assim, continuou, pensando que, em algum momento, ela perceberia o seu amor verdadeiro, forte e quente que ele sentia por ela.  

Ela, como sempre, fria e sem nenhum indício de sentimentos.  

E ele foi se desgastando, dia após dia, pelo amor dela.  

Seu coração começou a ficar com batidas mais fracas, e aquela parede que só tinha ela se transformou em um espelho, onde ele via o estado deplorável em que estava por causa dela.  

E, mesmo com a faísca que ainda existia em seu peito, ele continuou tentando, continuou, continuou...  

Até que, em um belo e mau dia, pela primeira vez, ela olhou para ele com o vestígio do mesmo olhar que ele ainda mantinha por ela.  

Ela começou a ficar sem entender o motivo daquele sentimento.  

Até que entendeu que era um sentimento diferente de qualquer outro.  

E que talvez, pela primeira vez, seria o amor.  

E, quando ela se aproximou dele para tentar conversar, ele se transformou em pedra.  

Mas ele havia deixado uma última carta, e a primeira que ela leria sobre o amor que ele sentia por ela.  

E lá estava escrito: "Eu me transbordei de amor por você, como uma tempestade em um copo de água. Eu escrevi tantas coisas para você, não sei se leu, mas espero que tenha lido todas as cartas que te mandei decoradas. Esta é a minha última carta, dizendo que me transformei em pedra, para te amar para sempre, mesmo que só tenha sobrado pedras no lugar do meu coração."

  • Autor: Odalila Sousa (Offline Offline)
  • Publicado: 23 de outubro de 2024 20:21
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 3
  • Usuários favoritos deste poema: Vênus
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Comentários1

  • Vênus

    Linda e trágica história de amor! Escreveu com perfeição! Aplausos de pé!!!



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