Tenho a sensação que não estou bem vestido para ocasião, sinto o medo de ser vulnerável ou transmitir a minha fraqueza.
Imagens, imagens, tudo são imagens. Há um anseio por todos os lados de sermos o que não somos, de falarmos o que não queremos dizer, de compartilharmos aquilo que não queremos; de brincarmos de não sermos o que somos.
Eu sinto que não posso mostrar a minha nudez, que preciso vestir a roupa certa para ocasião certa. Não, não posso mostrar o meu peito, isso é indecente demais, preciso vestir a roupa que a ocasião me exige, que as pessoas esperam, que todos usam.
Nessa busca pelos "eus" que todos esperam que sou, eu ainda não sei quem verdadeiramente sou. Há um eu para além das minhas vontades, das minhas escolhas ou das imagens que os outros fazem de mim, ou que faço de mim mesmo?
Não sei, tenho uma leve impressão que evito tais questionamentos, que quando olho no espelho vejo o homem que quero ser, ou que sonho em ser, mesmo sabendo que não sou.
Não me entristeço pelo homem que sou hoje, nem fujo da minha realidade. Enquanto sonho em ser algo que ainda sou, afirmo as limitações de quem sou hoje. Eu sou fruto das minhas escolhas, vontades, erros e falhas; se por um lado eu sou as minhas decisões; por outro, há um mar de futuras decisões que irei tomar. Nenhuma definição é absoluta, nem um eu é absoluto, há espaço para mudanças, e no palco da existência, reconhecer que estamos em um processo de transformação é libertador.
- Autor: Marcellus (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 26 de setembro de 2024 23:27
- Comentário do autor sobre o poema: Um poema que fala sobre a busca do eu.
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 5
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.