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Ouvi um grito e acho que caí
Senti o chão e de supetão me parti
O impacto fez de mim mil estilhaços
Olhei para o céu e vi a sola de um pé, um passo
De estalo em mais vezes me parto
Se tivesse pulmões teria sufocado
Se tivesse uma mente teria pensado
E se eu fosse de cristal ou de vidro?
Quem sabe uma taça cara
Ou um copo cheio de cachaça?
Sem valor, eu só causaria dor em quem me pisou
Foi só uma parte de mim que ficou na pisada
E entre altos e baixos essa parte seguiu qualquer estrada
Afinal, eu me tornara um caco!
Meu pedaço de vida tinha encravado!
Descobri que a dor dessa caminhada era compartilhada:
Às vezes era mencionada: que farpa danada!
Presa eu imaginava e as outras partes?
Em quantas partes e por onde estariam?
Será que outras partes partiram livres com uma ventania?
Mas como caco imaginei bem rápido:
Uma vassoura, uma pá, uma lixeira e um monte de lixo!
Uma farpa livre ou encravada era uma ameaça?
Foi quando virei pus e me expus
Sangrei sem ser minha a dor
Sem saber se era qualquer coisa ou pessoa
De repente eu era o alívio: o meu e o do outro
E que hilário isso me fez inteira de novo!
Eu não era mais a farpa de nada
Não sendo mais parte eu me fiz inteira
Eu me percebi pequena, mas não frágil:
Vieram tantas pisadas e eu não quebrava de novo!
Então me lembrei do que me quebrei e olhei para o céu novamente
Desta vez vi o imenso espaço e não um passo
Sem sufoco, por fim pensei:
Sou outro dia e sou inteira mais uma vez,
Mas sou só uma parte tão ínfima no infinito de partes
E afinal não somos todos assim na verdade?
- Autor: Charlotte Manso (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 31 de agosto de 2024 14:58
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 9
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