parte i
não há mais reflexo no espelho.
sempre foi fácil pra mim, tentar e tentar.
saber que não ia ser dessa vez, de alguma forma me acolhia.
porque no fundo eu não queria.
décimo quinto andar nunca foi uma opção, era real demais.
eu só queria que o reflexo sumisse, e ele sumiu, por um tempo.
mas o passado ainda continua no presente.
a dor do corte, sim.
o sangue, sim.
os remédios, sim.
a queda, não. não podia
porque você ia ficar, e eu prometi mais um mês de pé.
por enquanto os cortes.
o alto do céu com o rosto no chão eu não posso apreciar agora.
parte ii
em cima branco
na frente lado a lado branco e o barulho agudo mais uma vez.
mais uma vez.
abri os olhos e queria fechar, mas você estava ali me olhando com decepção
tu carregava mais peso nos olhos do que eu, que acabará de acordar depois de quarenta e nove horas e trinta e quatro segundos.
máquinas e fios me prendia a realidade
e você, você me atava ao chão e ainda me fazia ficar de pé feita marionete
trinta dias você me pediu, trinta dias sem tentar matar meu eu.
trinta dias, você me fez jurar
"você consegue mais trinta dias, por favor"
e eu fiz essa jura para ti, um mês de vida.
desculpa.
eu falhei.
parte iii
o reflexo do espelho sumiu
sempre foi fácil para mim tentar e tentar
saber que não ia ser dessa vez, de alguma forma me acolhia.
porque no fundo eu não era eu quem a morte esperava
eu me definhava, mas era ela.
sim era ela quem devia partir, e eu só descobri depois.
- Autor: Débora ( Offline)
- Publicado: 14 de julho de 2020 23:00
- Comentário do autor sobre o poema: @versosquevoam
- Categoria: Triste
- Visualizações: 22
Comentários1
É impressionante a capacidade de transformar dor em arte, não sei como você está, porém saiba q tem muito talento e é muito maior que qualquer coisa
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