O LUXO E O LIXO

Elfrans Silva

O LUXO E O LIXO 

 

Era altas horas da madrugada
De uma noite enluarada
O farol alto de um belo carro
Quase lhe cega o olhar cansado
Em cada rua olha dos lados
Sob os olhares desconfiados 
Pisa baganas de mil cigarros
Em contrapasso pela calçada 

 

Dentre essa gente necessitada
Súcia, ralé, bando, cambada
(O galho seco de seu agarro)
Ele adormece, reconfortado
- "O Pai é rico'! Tens pregoado
"Nada me falta, sou abençoado"
Todos viemos do mesmo barro
Ao fim de tudo dá-se em nada

 

Quando a riqueza foi fatiada 
Pra tua sorte foi triplicada
Encheste a bolsa, o baú , o jarro
A maior parte foi lhe confiado
Ele herdou. E despreparado,
Se desnudou, foi descalçado
Sofreu humilha, ódio e esparro
"O filho novo" da vida frustrada 

 

O farol alto e a visão turvada
Não trava mente da alma amada
Tendo a história final bizarro:
O prêmio justo, predeterminado
A luz se apaga, é dia assombrado
Ouro de tolo, jardim desflorado
Luxo ou pobreza, discreto ou picarro
Um trono, um Juiz, a conta acertada 

 

A lua inexiste, nem rua e calçada 
Nem luz de farol e nem madrugada
Ao fogo o joio, à víde o desparro
O rico e o pobre equiparados...
Varrida a sujeira dessa estrada
De luto e alegria, choro e fanfarro...
Resta a multidão de gente sem lixo
Gente sem luxo. Gente sem nada ! 

 

           * Elfrans Silva

  • Autor: Elfrans Silva (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 27 de julho de 2024 13:10
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 9


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.