A noite de Márcia

marcia danieli alves de souza



Desalegre, era como tudo parecia. Difícil adivinhar ao certo. Menos ainda poderia arriscar as razões da talvez desalegria.

 

Tremulava um vestido de cambraia bordado sobre o corpo e isso me permitia diagrama-la. Meus olhos em fios de sabre estilhaçaram as roupas.

 

Absolvi apenas as anáguas porque não eram exatamente anáguas. Eram grinaldas que ela carregava um pouco abaixo da cintura.

 

Farejei o perfume das sílabas inventadas por meu faro e, sem que ela percebesse, a escravizei. 

 

Reduzi sua liberdade a meus braços e meus desejos.

 

Tudo em silêncio.

 

Depois toquei suas mãos e me pus dentro delas com lábios pontiagudos.

 

Sem tréguas, surgi em seus ombros descalços e

 

os devorava

e os polia,

 

os devorava

e os polia,

 

os devorava

e os polia.

 

Amá-la, me restituía à vida. Assim, consciente do dever de viver e de amar, tatuei cada pétala de grinalda com meu glacê

 

Preamar

 

                   Maré alta

 

Maré baixa

 

Maré alta

Maré baixa

 

                          Maré alta

 

Ali desenhamos o nosso próprio evangelho.

 

Desfiamos um terço celeste em orações gemidas em hábeis línguas.

 

Nenhuma cerimônia mais:

Só uma missa

Só um único testamento.

 

Amém.

 

 

 



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