DEFUNTO DERRIÇO.

QUE BÊNÇÃO PERVERSA É ESSA,
QUE O DEUS À TERRA ENTREGA?
UM PRESENTE VIL! DE PODRIDÕES
IMOLADAS DESSA MASSA CARNAL MALTRATADA,
QUE NA VIDA VIU SUA MORTE EM VISÕES.

É UMA OFERENDA IMOLADA DO CÉU,
AOS VERMES FAMINTOS, A MIM,
QUE DESCEU O ALIMENTO AOS CONFINS,
E VELOU-O COM VÉUS DE CORDEL!

E O QUE ELE FOI: CLAVÍCULAS, ABDÔMEN,
O CORAÇÃO, A BOCA, EM SÍNTESE, UM HOMEM;
ENGRENAGENS DE VÍSCERAS VULGARES.

OS INSETOS ASSASSINOS BEBEM,
DO MUCO SEBOSO, DO SANGUE INERTE,
NUMA GLUTONARIA HEDIONDA, BRINCAM,
COMO CÃES QUE AS MANDÍBULAS TRINCAM,
NO ESPASMO HORRENDO DA FOME!

E QUE ME IMPORTA O SABOR?

QUANDO VIVO, ABANDONOU-O O AMOR!
VIVEU DO MENTIR, DE SENTIR A PERVERSÃO!
OUTRORA FOI ABERRAÇÃO, AGORA,
REPOUSA EM UMA COVA, PODRE, QUAL FOI SEU CORAÇÃO.

HOUVE QUEM ESPREITOU OS OLHOS PARA VÊ-LO,
QUEM OUSOU COMPARECER A ESTE ENTERRO!

NA ESPERANÇA IMÓVEL, NO CARINHO, NO ZELO,
INÚTIL! E A TERRA HÁ DE ROER ATÉ OS CABELOS!

SUA PODRIDÃO DESPERTA O SUBTERRÂNEO,
E NA CARCAÇA FRIA DESSE CRÂNIO
- PREENCHIDO OUTRORA POR CRIMES SEM TAMANHO! -
VÊM AS LARVAS, COM SEDE DE PROFANO!

O BADALAR DOS OSSOS NA MANDÍBULA
DOS DENTES TORTOS, DA LÍNGUA FERIDA,
GRITAM A ELEGIA QUE FORAM SUAS VIDAS!

PROSTITUINDO TALVEZ, EM SUAS BASES,
É UMA CANÇÃO DA NATUREZA, EXAUSTA,
CHORANDO E RINDO NA IRONIA NEFASTA
DA INCOERÊNCIA INFERNAL DAQUELAS FRASES!

ENFIM, TOMA-SE CONTA DO QUE APODRECE.
E NENHUMA FAMÍLIA, A ORAR, SE ATREVE,
VENDO AS LARVAS ASQUEROSAS SE EMBRULHAREM
NOS OLHOS DO CADÁVER,

OLHOS INÚTEIS, ASSUSTADOS,
CLAMAM PRECES.

AI DE TI, IMACULADO!
POR MIM, É UMA DELÍCIA SEM CAUTELA.
POIS SÓ ASSIM, TENS UM SABOR TÃO AGRADÁVEL;
SOZINHO, NO ESCURO, COBERTO DE TERRA!