Sexta de noite as sombras sempre pairam no ar
A madrugada é tempo de outra dimensão
Como se o ar se rarefizesse em morfina
Sim, o ar da noite é meu aparelho respirador
Como o cigarro de ponta laranja brilhante
E o whisky da venda da esquina
Todo o dia, toda a maldita semana para isto
E o que é isto?
Tudo! Nada! O que quiser! Liberdade! Tanto faz
O fim de semana é o lugar do caos de meu corpo
Do orgasmo de minha mente
Da estupidez que é tão... gostosa
Como o hálito daquela boca na minha
Ou a lembrança, ou a esperança
Bebo como se fosse morrer amanhã
Pois de que me adianta o amanhã
Se nunca tenho o hoje?
O mundo se esfacela com os contornos de meu rosto
A linha da vida me queima
Mas queima também a brasa em meu peito
Dor ou prazer, eu não me importo
Só quero ser capaz de sentir
De ser o receptáculo do sentir
Pois nada tive antes de viver
E disso ninguém lembra
O quão bom pode ser algo assim?
Não, quero é a vida com todas suas faces
E quando tiver de ir, que a visão de minhas pegadas
Perdidas no horizonte atrás
Me façam rir uma última vez
Ou chorar de antecipada saudade
Que eu apenas seja ainda capaz de sentir alguma coisa
E então esta será minha despedida em oração
Mas por enquanto eu escrevo
E o tempo me atravessa a cada segundo
E é porque o tempo passa que é bom
É a fricção da vida em movimento que acaricia
É a fricção da vida que acaricia
- Autor: Novembro ( Offline)
- Publicado: 22 de junho de 2024 01:03
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 7
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