NO
Prometheus
Todos os dias, toda vez que deito e simplesmente desejo com muita força
Todos os dias eu penso em tentar escrever minha redenção, ela nunca vem mas eu ainda tento
Cada segundo esperando que o próximo seja diferente — suficiente querer tanto que simplesmente se faz verdade
Todos os dias eu sinto vir a resposta absoluta, tento alcançá-la, tento escrevê-la
Não dá, não há como, é além de mim e mesmo se não fosse ainda faltaria muito
Mas sobreviver exige de mim essas tentativas ininterruptas para dar algum sentido, algum mísero propósito mesmo que eu não enxergue mais
Então eu escrevo, não consigo ir além do que suportei, do que passei e sei, não consigo ir além com meu intelecto mediano mas não consigo parar
Acho que quando me perco no meio das minhas criações eu espero um pouquinho mais porque toda vez que eu imagino, eu acredito
Crio cenários, eu os nomeio, eu os torno parte de mim e do que tento definir, assim, temporariamente me liberto de tanta pele morta
Lentamente aterrizo na imensidão solitária onde me tranquilizo e me acudo
Não temo palavras, as mais violentas me recebem com reverência e me acolhem porque tive coragem de dizê-las mesmo quando elas me apavoravam até á morte
Depois de entender que a violência mais crua, explícita e dolorosa é a violência suave, tudo pareceu um silencioso atentado hediondo
Ainda tento me cobrir das minhas boas intenções e curar-me com paciência, tratando e cuidando das minhas próprias lesões mesmo que pareçam não coagularem mais
Imagino-me em vida simples, nem sempre com fama ou dinheiro; sempre desejei entender cada centímetro do céu astronômico, almejei profundamente à benção do reconhecimento criativo e não passar de um pequeno artista local; é exaustivo pensar em quanta vida é vida, em quantas não são ou poderiam ser, em quantas foram ou poderiam ter sido
Acho que vou tentar mesmo que pareça que estou sendo forçado a continuar, mesmo que eu esteja sendo, mesmo que eu saiba da paz de inexistir embora não consiga alcançar, mesmo entendendo que está tudo bem não se identificar com a brutalidade feia do ser e com os detalhes confusos de não se reconhecer
Escrevo de puro coração e exagerado como sou, quase me solta quando me saio, quando espero com a fé que não tenho, quando quero com tanta força que às vezes acredito ser suficiente tanto querer mesmo não sendo
Minha familia me podou como o estado, suavemente rasgaram minha pele e então descobri que adultos não sentem nojo de vísceras, órgãos á mostra, na realidade é como se alimentam, é um banquete, eles devoram e nunca saciam porque isso define e valida o mal e a perversidade que os pertencem; e ainda esperaram de mim o padrão que quebrei com tanto desprezo à esses ditadores patéticos
Os homens me despiram de uma forma tão bruta e primitiva que — por não ter conceitos básicos de violência crua — indubitavelmente acreditei que todos eles fossem como deus, paternal e virtuoso tentando manter a ordem quando era absolutamente tudo sobre ego, o desprezo ao feminino e o orgasmo súbito do estupro
Correntes ordinárias definhando cada perspectiva da minha poderosa arte
Minha própria existência tem me testado como se eu fosse milionário, suavemente arrancando violentamente às máscaras tanto benignas quanto às inaceitáveis; inaceitáveis que me disseram um dia serem minhas, não eram, não sou eu
O consenso contaminado funciona como uma superbactéria maligna que corrói e consome de maneira indolor e imperceptível
Não temo meus demônios, eu os ressignifico até onde consigo, eu os perdoo conforme percebo o que à história nos deu, o que ainda entrega ao longo de cada período passível de título
Não do razão ao que não há, entrego o puro e difícil perdão tentando conter meu orgulho porque é o que quero agarrar quando chega á justa raiva que — por causa do que agarro — canalizo ao ideal de revoluções utópicas, mesmo tão desesperançoso
Perdoo pela criança
Então eu digito, penso, perco-me em infinitos devaneios, escrevo, falo e deduzo esperando que um dia uma probabilidade rara se concretize — desperte o arco adormecido que sempre descansou no meu templo e sempre com um complexo irritante e invisível de salvador
- Autor: arthurheroin ( Offline)
- Publicado: 27 de maio de 2024 17:37
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 2
- Usuários favoritos deste poema: arthurheroin
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.