AS CEROULAS DO MEU AVÔ

joaquim cesario de mello

 

As ceroulas do meu avô

são do tempo das coisas findas

época em que se andava de bonde

e as calvícies eram encobertas por chapéus

 

As ceroulas do meu avô

remonta a datas que já não existem

quando as mulheres usavam boleros

as praias pareciam distante e desabitadas

e os jovens dançavam ao som do swing

 

Naqueles dias sepultados sob o esquecimento

doença se chamava de achaque

bagunça e baderna era fuzarca

quem era cupido era alcoviteiro

alma sebosa tinha o nome de calhorda

e se hoje fosse ontem as ceroulas do meu avô

seriam chamadas de estrovenga

 

As ceroulas do meu avô

tem a idade de um século

feitas com finos fios de algodão arcaicos

lavadas nas águas límpidas dos rios

que o passar dos anos secou

 

As ceroulas do meu avô

vieram antes de mim

e como não há fotos dele quase pelado

eu nunca conheci as ceroulas do meu avô

 

Ah, que saudades tenho

das ceroulas do meu avô!

 

  • Autor: joaquim cesario de mello (Offline Offline)
  • Publicado: 1 de maio de 2024 07:46
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 8
Comentários +

Comentários1

  • Maria dorta

    Bonito, saudosista e até hilario teu poema é quase um relicário de boas lembranças. Bravos!



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.