As ceroulas do meu avô
são do tempo das coisas findas
época em que se andava de bonde
e as calvícies eram encobertas por chapéus
As ceroulas do meu avô
remonta a datas que já não existem
quando as mulheres usavam boleros
as praias pareciam distante e desabitadas
e os jovens dançavam ao som do swing
Naqueles dias sepultados sob o esquecimento
doença se chamava de achaque
bagunça e baderna era fuzarca
quem era cupido era alcoviteiro
alma sebosa tinha o nome de calhorda
e se hoje fosse ontem as ceroulas do meu avô
seriam chamadas de estrovenga
As ceroulas do meu avô
tem a idade de um século
feitas com finos fios de algodão arcaicos
lavadas nas águas límpidas dos rios
que o passar dos anos secou
As ceroulas do meu avô
vieram antes de mim
e como não há fotos dele quase pelado
eu nunca conheci as ceroulas do meu avô
Ah, que saudades tenho
das ceroulas do meu avô!
- Autor: joaquim cesario de mello ( Offline)
- Publicado: 1 de maio de 2024 07:46
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 9
Comentários1
Bonito, saudosista e até hilario teu poema é quase um relicário de boas lembranças. Bravos!
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