Costumava atravessar a rua

Toda vez que via um rosto familiar.

Pessoas vão e vêm,

O vento acabou me levando também.

Sumi por um breve momento,

Não porque quis,

É só que não há nada novo, de novo.

São sempre aquelas mesmas mentiras

Sobre viver um grande amor.

Isso é coisa de cinema, e olha que já amei

Até demais.

Mas já estou a metros de distância

Desses sentimentos.

Mas o jeito que tu me olha,

Eu ainda fico sem jeito de encarar.

Disfarço, olhando pra direita e pra esquerda,

Encaro em um breve momento.

Olhar baixo, e em segundos,

Te desconheço.

E o tempo passa,

E ele acabou de passar por você.

Ontem andávamos na rua lado a lado,

De mãos dadas e rindo alto.

Mas ao longo do roteiro,

Me perguntei como iria acabar.

Se iria sorrir ou chorar,

Sentir ou enterrar essa dor que me dá.

Desaprendo como andar, tropeço e caio,

Me esforço pra me levantar

E viver mais um dia da semana.

Atravessei a rua da última vez que trocamos mensagens,

Quase parei no meio da avenida,

Diante de tanta decepção escrita.

E essa é a vida,

Com aquela vaga sensação de ansiedade

Que parece inevitável.

As lembranças de nós sentados no meio-fio

Embrulham meu estômago.

Quero esquecê-lo por um instante

Só pra escutar o som da "nossa" música

Nessa trilha sonora,

Idealizo nós dois.

Mas você é um puro ruído estridente,

Barulhento e irritante.

Reparei que você me notou de novo esses dias,

Nessa hora foi você quem atravessou a rua.

Qual é? Todo mundo faz coisas desnecessárias,

Mas colocar nós dois na mesma balança?

Você sabe quem pesa mais.

Mas, tá tudo bem, por gostar tanto de você,

Vou me culpar por nós dois.

Depois apenas dou corda no relógio e tento de novo,

Com outros alguéns

Sozinha também.

Errei um pouco só para encontrar meu próprio ritmo,

Me apaixonei, me neguei, me culpei

Recomecei enfim.

Bastou aproveitar, basta estar feliz no fim.

Já não atravesso mais a rua quando te vejo,

Por mais que eu queira, é inevitável,

Porque a gente pega o ônibus no mesmo terminal.

 

N.