João de Barro

Magno Ferreira

Qual é a graça da desgraça?

Por onde andam os valores que não estão na praça?

Não sei onde eu estou ou estava.

Isso me deixa sem palavra.

Em meio a essa safra

Eu não sei o que se safa.

A vida vive por um fio

Derretendo no calor do mundo frio,

Definhando e causando calafrio,

Enchendo o mar e esvaziando o vazio.

 

O que é a minha vida diante do diamante?

De amante da vida não há nada

Nos que surfam na onda dominante.

A minha vida não passa de uma escada.

Uma escada descartável

Sem nenhuma chance de ser reciclável.

 

Até a garça ri da raça

Voando perdida.

Até a garça acha graça

Da vida derretida, sumida na fumaça.

Qual passarinho passaria fome

Vigiando a comida de quem come?

Pobre João de Barro, obedece sem ser obedecido,

Esquece que é esquecido e constrói sendo destruído.

Ele sabe que foi jogado para escanteio.

Ele sabe que pra ele o negócio está feio.

Mas esgotado, bico calado, nada de freio.

E nesse estado, nesse cercado,

Se frear será esmagado.

 

Assim, sem nenhum movimento,

O produtivo animal se transforma em um instrumento.

Uma ferramenta, uma escada, um lombo de jumento,

Um ponto para um pronto atendimento.

O João de Barro sempre paga o pato.

O João de Barro não sabe beliscar o prato.

Só sabe beliscar o prato quem não paga o pato.

Oh Pai! Se eu vir os bichos no pulo do gato ficarei grato.

Dessa força que a gente bota, brota o que a gente quer.

Se a gente se junta quem sabe assunta e de repente bate o pé.

  • Autor: Magno Ferreira (Offline Offline)
  • Publicado: 24 de abril de 2024 10:42
  • Categoria: sociopolitico
  • Visualizações: 4


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.