Benedito Morais de Carvalho (Benê)

O NOME DELE ERA "NINGUÉM"



O NOME DELE ERA "NINGUÉM"

 

Saiu de casa sem nada

a idade já avançada

com a saúde debilitada

foi sobreviver nas ruas

marreteiro clandestino

no frio ou sol a pino.

Perdido dentro de si

esqueceu o rumo de casa

e não fez falta alguma

dormia em albergues

verdadeiros aicebergs

solitário e depressivo

se usava depressivo

ninguém queria saber

sua terapia era beber.

Prostrado diante de Deus

querendo ser destruído

implorou para morrer.

Eu o saudava todos os dias:

Professor, tenha um bom dia!

O nome dele eu não sabia

nem me interessava em saber

fiquei sabendo depois dele morto

quando ele pulou de um viaduto.

Geraldo Bispo era o seu nome

ninguém por ele ficou de luto

Geraldo não tinha ninguém

morreu atrapalhando o trânsito

corpo estendido na via expressa

entre carros de passeio e furgões

todos comprometidos com a pressa

buzinaços, xingamentos e palavrões.

Foi enterrado como indigente

em uma cova rasa certamente

de algum cemitério decadente

de uma zona qualquer da cidade

amortalhado pela insensibilidade

de uma desumanizada sociedade.

 

Autor: Benedito Morais de Carvalho (Benê)

 

 

 

 

 

 

 

Comentários2

  • Rosangela Rodrigues de Oliveira

    Triste fim, tudo depende do passo que se dá hoje, as escolhas do hoje vai depender a vida inteira.

  • Maria dorta

    Lindo obituário e grito de revolta pelos desprezados da sorte que parecem invisíveis para uma ( dês) umanodade amorfa,que com os miseráveis desta vida pouco se importam. Lindo poetar de quem tem sensibilidade e talento poético. Aplausos!



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