O NOME DELE ERA "NINGUÉM"
Saiu de casa sem nada
a idade já avançada
com a saúde debilitada
foi sobreviver nas ruas
marreteiro clandestino
no frio ou sol a pino.
Perdido dentro de si
esqueceu o rumo de casa
e não fez falta alguma
dormia em albergues
verdadeiros aicebergs
solitário e depressivo
se usava depressivo
ninguém queria saber
sua terapia era beber.
Prostrado diante de Deus
querendo ser destruído
implorou para morrer.
Eu o saudava todos os dias:
Professor, tenha um bom dia!
O nome dele eu não sabia
nem me interessava em saber
fiquei sabendo depois dele morto
quando ele pulou de um viaduto.
Geraldo Bispo era o seu nome
ninguém por ele ficou de luto
Geraldo não tinha ninguém
morreu atrapalhando o trânsito
corpo estendido na via expressa
entre carros de passeio e furgões
todos comprometidos com a pressa
buzinaços, xingamentos e palavrões.
Foi enterrado como indigente
em uma cova rasa certamente
de algum cemitério decadente
de uma zona qualquer da cidade
amortalhado pela insensibilidade
de uma desumanizada sociedade.
Autor: Benedito Morais de Carvalho (Benê)
- Autor: Benedito Morais de Carvalho (Benê) ( Offline)
- Publicado: 18 de abril de 2024 15:47
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 6
Comentários2
Triste fim, tudo depende do passo que se dá hoje, as escolhas do hoje vai depender a vida inteira.
Lindo obituário e grito de revolta pelos desprezados da sorte que parecem invisíveis para uma ( dês) umanodade amorfa,que com os miseráveis desta vida pouco se importam. Lindo poetar de quem tem sensibilidade e talento poético. Aplausos!
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