Jessé Ojuara

ROMIOFE


Aviso de ausência de Jessé Ojuara
NO

 

Esse mundo tá perdido.
Fico muito confuso.
É tanta modernidade,
que considero um abuso.
Mexer com o que dá certo,
só gente sem parafuso.

Veja meu companheiro,
vou tentar lhe explicar.
O amigo Zé Libório,
com quem tava a prosear.
Falou dessa novidade,
que eu vou lhe relatar.

É outro jeito de trabalho.
Diferente do costume.
Romiofe é o nome.
Você se sente e aprume,
porque não vai acreditar,
cheira mal como estrume.

Zé falou que o Romiofe,
funciona desse jeito.
O cabra trabalha em casa.
E tem melhor proveito.
Não precisa ir pra firma.
Disse, é um novo conceito!.

Eu fiquei obtuso..
Como posso trabalhar,
sem eu sair de casa.
Quem vai a roça roçar?
E os bode e as galinha,
como posso alimentar?.

Ele disse que não é assim.
Não serve pra todo mundo.
Só pro povo educado.
Ele, o Doutor Edmundo.
Os outros tem que trabalhar.
Falei: os que não é vagabundo?.

O homi se emputeceu-se.
Praguejou, claro que não.
Nesse tipo de trabalho,
tem muito mais dedicação.
Nós somos controlados,
pela disciplina e visão.

Aquietei o facho e perguntei:
Tudo funciona bem?
Ele disse as vezes não.
Os problemas também têm.
Se passa o carro do ovo,
não trabalha mais ninguém.

Perguntei curioso.
Pode dormir até tarde?
Respondeu, óbvio que não.
Só um pouco, sem alarde.
Precisa cumprir à missão.
Senão, Deus que lhe guarde.

Depois de tudo ouvir,
e de muito matutar.
Respondi pro amigo Zé.
Vou concluir e lhe falar.
Posso até não ser doutor.
Isso é forma de explorar.

A criação da nossa CLT,
reduziu a exploração.
A relação trabalhista,
beirava a escravidão.
Ao longo desse tempo,
ganhos, perdas e omissão.

Agora esse tal Romiofe,
fantasiado de bonzinho.
Parece mais um vilão.
Vai nos fazer de bobinho.
Nossos legisladores,
já escondeu o espinho.

Cada um no seu quadrado.
Sem muita misturação.
O trabalho e minha casa,
melhor não juntar não.
Como posso ver meu filho
e não lhe dar atenção.

Ver minha mulé passar,
Cheirosa e faceira,
e não passar pelo quengo,
um monte de asneira.
Desejo é terra sem dono.
Não tem solução caseira.

Quando começa e termina,
a sua tal dedicação?
E se o patrão desejar,
falar durante a refeição?
Pior ainda pergunto:
Se for na hora da ralação?

Falei: o tal computador,
você pode desligar?
Qual é o seu horário,
pra familia e trabalhar?
Será que o tal Romiofe,
não vai lhe escravizar.

Desde que o mundo é mundo.
Tenho só uma certeza,
Se é bom para o  patrão,
pode olhar tem esperteza.
Eles sempre fazem tudo,
para aumentar sua riqueza.

No trabalho ganhe o pão.
Em casa amor e harmonia.
Se juntar essas duas coisas,
vai lhe roubar a alegria.
Se concordasse com o patrão,
da familia desistia.

 

  • Autor: Jessé Ojuara (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 7 de Julho de 2020 12:06
  • Categoria: Sociopolítico
  • Visualizações: 39

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