Estava quente. Absurdamente quente, aquele tipo de calor que faz com que não se tenha vontade de existir. Bom, vontade de existir eu nunca tenho, mas o calor faz com que isso fique muito mais palpável, muito mais desejável e possivel. Deitado na cama , nesse quarto minúsculo onde tudo acontece, mas nada se muda, apenas penso.
Podia entrar em algum aplicativo e procurar alguma transa, mas isso demandaria um esforço que eu não quero fazer, pois até uma foda sem compromisso demanda esforço demais, bajulações demais, enaltações demais, risinhos e joguinhos que eu não tô afim de fazer.
Podia fumar, mas o cigarro acabou na última vez que sai para beber, em que sempre penso " hoje vou falar de como me sinto " e termino sempre fumando e ouvindo alguma história sobre a vida amorosa de alguém, como se fosse algo incrivelmente importante, mas na verdade soa apenas triste, todos os encontros, desencontros, lágrimas, alegrias ,desejos, dor, gozo, finais. Afinal sempre acaba, por mais que andemos como loucos dando valor a tudo que é insignificante e ocupando nosso tempo com qualquer coisa que nos distraía do imenso vazio que sentimos e da solidão que nos oprime , o fim sempre chega.
Tenho lido. Me cercando com palavras e me isolado das pessoas, pois é isso que acontece, pode-se viver milhares de vidas lendo, mas isso também faz com que você olhe para sua própria vida, essa em que você é o ator principal, e a ache medíocre. Fantasiei tanto que seria coisas espetaculares, que faria a diferença no mundo, que seria reconhecido na minha grandeza, e hoje percebo que sou apenas um misto de fobias e tristezas, onde vivo uma vida que tenho dificuldades em diferenciar se estou realmente vivo ou morto. Morto é uma boa definição. Morto-vivo, como os zumbis dos filmes, acho que zumbis são uma boa metáfora sobre o que você se transforma quando todos os seus sonhos morrem.
Divaguei. É o calor. Me irrita profundamente essa sensação de alegria que um dia de sol faz com que você sinta. Eu não sinto isso, sinto uma raiva, pois já não acredito nas alegrias que um dia de sol anuncia. Não acredito em muitas coisas. No que há para acreditar depois que você percebe a completa falta de sentido na sua própria existência? Sei que parece idiota, mas absolutamente nada tem um sentido, e ainda assim somos responsáveis por nossas escolhas, como diria Sartre. Foda-se Sartre. Ele teve um ideal pelo qual viver, mas e o resto de nós ,meros mortais, que têm que pagar o aluguel e a comida, trabalhar e ainda achar tempo para transar?
- Autor: caiopessoaaltro ( Offline)
- Publicado: 6 de julho de 2020 15:56
- Comentário do autor sobre o poema: Ainda em desenvolvimento, críticas são bem vindas.
- Categoria: Conto
- Visualizações: 6
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