Marcos Antônio Lima

Como é gostoso morar na roça

 

Morar na roça é ouvir

O gorjear dos pássaros

Em infinita sinfonia

De sonhos rasos, acordando o sol

É inalar a fragrancia da natureza

Apreciando sua esmera beleza

Nas pétalas de um girassol

 

Como é gostoso de ver...

Os grãos esperramados pelo chão

A cada alvorecer

Ouvir o marretar da mão de pilão

Em frenética movimentação

Extraindo dos caroços

Como o tutano extraído do osso

O fabuloso aroma de café

Não aquele embalado a vácuo

Mas, o café torrado no caco

Daqueles com gosto de sertão

 

Morar na roça

É apreciar a Deusa floresta

Junto as suas árvores querubins

Vê-la aparar sua arestas

Nos cabelos das matas

Com tesouras de nuvens marfim

Como eu gosto

De veslumbrar o riacho

De águas cristalinas

Límpidas quanto a aurea

A escorrer pelas frestas das fendas

E desaguar nos tachos da terra.

 

Como é gostoso...

Conversar com o silêncio da noite

Observando a escuridão da mata

Tranquila e sem açoite

Onde a fauna retrata

A flora fazendo serenata.

 

Gostoso é ouvir

O crépitar da lenha queimando

A fumaça dançando

Ao tom dos tições em brasa

Numa mescla de luz e calor

Que aquece a alegria d’alma

Nos corações aquecidos de amor.

 

Como é gostoso morar na roça...

E constatar nos galhos

Da frondosa goiabeira

Que ele está lá

O fabuloso bem-te-vi

Anunciando esperança

Através de seu cântico

No recôncavo da amabilidade.

 

Como eu gosto de morar na roça...

Assistir a poesia do beija-flor,

Voando e beijando os lábios das pétalas amor

Bailando em um galho seco de uma árvore

Em voar solene nas asas douradas da liberdade

Pássaros trocando carícia de ternura, de amizade

Sob o olhar do crepúsculo da infinita deidade.

 

Como eu gosto de morar na roça...

E apreciar a lua de prata no céu

Bailando com os astros e estrelas

Tendo o universo como menestrel.

 

É no pleniluino que as janelas da roça

Se abrem para apreciar o luar do sertão,

Nas noites de Santo Antônio, São Pedro e São João

É fogo, brasa, fumaça, balão e troça

Misturado ao milho assado na brasa

Que exala cheiro que só exite na roça.

 

Morar na roça...

É estender a rede do tempo

Debaixo do frondoso cajueiro

Interligada por cordas de sisal

À sombra do ar puro do taquaral.

Na roça é possível interligar vários elos

Entre a traquilidade e o sossego,

No sorriso da paz que tráz apêgo.

Foi na roça que a lua e o sol

Tornaram-se amantes

E procriaram as estrelas

No infinito do horizonte.

 

Na temporada de trovoada

Ver-se um verdadeiro espetáculo cósmigo

Aconchegadinho ao colo da amada

Assistir no céu azul-escuro, trovões e relâmpagos

Rasgarem as entranhas das matas e seus pirilampos

Isso é sertão onde o sereno frio caí de mansinho

Enquanto dorme a serimema no pé da serra

E o tatu busca se esconder no eixo da terra.

Seguindo a cerca de vara, pode-se dar de cara

Com um oásis de mancambira

E ver dançando animadamente os preás

A zombarem dos sanguinolentos carcarás.

 

Morar na roça...

É ter no umbuzeiro, um amigo generoso

Que convida a saborear de seu umbú cajá

De gosto doce, de um azedo delicioso

Por isso, Deus me livre eu sair de cá.

 

Morar na roça...

É poder refrescar-se com água de coco

Tomar banho, e nadar no poço

Degustar de uma deliciosa manga espada

Sorrindo pro sol na poeira da estrada

Bemdizendo: Deus permita que eu fique por cá.

  

Marcos Antônio Lima

  • Autor: MacPot (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 3 de Março de 2020 19:52
  • Comentário do autor sobre o poema: A poética do viver junto a mãe natureza, não tem preço.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 9


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