Morar na roça é ouvir
O gorjear dos pássaros
Em infinita sinfonia
De sonhos rasos, acordando o sol
É inalar a fragrancia da natureza
Apreciando sua esmera beleza
Nas pétalas de um girassol
Como é gostoso de ver...
Os grãos esperramados pelo chão
A cada alvorecer
Ouvir o marretar da mão de pilão
Em frenética movimentação
Extraindo dos caroços
Como o tutano extraído do osso
O fabuloso aroma de café
Não aquele embalado a vácuo
Mas, o café torrado no caco
Daqueles com gosto de sertão
Morar na roça
É apreciar a Deusa floresta
Junto as suas árvores querubins
Vê-la aparar sua arestas
Nos cabelos das matas
Com tesouras de nuvens marfim
Como eu gosto
De veslumbrar o riacho
De águas cristalinas
Límpidas quanto a aurea
A escorrer pelas frestas das fendas
E desaguar nos tachos da terra.
Como é gostoso...
Conversar com o silêncio da noite
Observando a escuridão da mata
Tranquila e sem açoite
Onde a fauna retrata
A flora fazendo serenata.
Gostoso é ouvir
O crépitar da lenha queimando
A fumaça dançando
Ao tom dos tições em brasa
Numa mescla de luz e calor
Que aquece a alegria d’alma
Nos corações aquecidos de amor.
Como é gostoso morar na roça...
E constatar nos galhos
Da frondosa goiabeira
Que ele está lá
O fabuloso bem-te-vi
Anunciando esperança
Através de seu cântico
No recôncavo da amabilidade.
Como eu gosto de morar na roça...
Assistir a poesia do beija-flor,
Voando e beijando os lábios das pétalas amor
Bailando em um galho seco de uma árvore
Em voar solene nas asas douradas da liberdade
Pássaros trocando carícia de ternura, de amizade
Sob o olhar do crepúsculo da infinita deidade.
Como eu gosto de morar na roça...
E apreciar a lua de prata no céu
Bailando com os astros e estrelas
Tendo o universo como menestrel.
É no pleniluino que as janelas da roça
Se abrem para apreciar o luar do sertão,
Nas noites de Santo Antônio, São Pedro e São João
É fogo, brasa, fumaça, balão e troça
Misturado ao milho assado na brasa
Que exala cheiro que só exite na roça.
Morar na roça...
É estender a rede do tempo
Debaixo do frondoso cajueiro
Interligada por cordas de sisal
À sombra do ar puro do taquaral.
Na roça é possível interligar vários elos
Entre a traquilidade e o sossego,
No sorriso da paz que tráz apêgo.
Foi na roça que a lua e o sol
Tornaram-se amantes
E procriaram as estrelas
No infinito do horizonte.
Na temporada de trovoada
Ver-se um verdadeiro espetáculo cósmigo
Aconchegadinho ao colo da amada
Assistir no céu azul-escuro, trovões e relâmpagos
Rasgarem as entranhas das matas e seus pirilampos
Isso é sertão onde o sereno frio caí de mansinho
Enquanto dorme a serimema no pé da serra
E o tatu busca se esconder no eixo da terra.
Seguindo a cerca de vara, pode-se dar de cara
Com um oásis de mancambira
E ver dançando animadamente os preás
A zombarem dos sanguinolentos carcarás.
Morar na roça...
É ter no umbuzeiro, um amigo generoso
Que convida a saborear de seu umbú cajá
De gosto doce, de um azedo delicioso
Por isso, Deus me livre eu sair de cá.
Morar na roça...
É poder refrescar-se com água de coco
Tomar banho, e nadar no poço
Degustar de uma deliciosa manga espada
Sorrindo pro sol na poeira da estrada
Bemdizendo: Deus permita que eu fique por cá.
Marcos Antônio Lima
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Autor:
MacPot (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 3 de março de 2020 19:52
- Comentário do autor sobre o poema: A poética do viver junto a mãe natureza, não tem preço.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 9
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