Zero à esquerda

Hoje eu chorei
Não como têm
sido nas últimas
vezes, mas chorei
 
Não derramei lágrimas
Não fiquei com soluços
Nem com nariz vermelho
Mesmo assim, chorei
 
Pois meu choro
foi interno
Sim, eu chorei
por dentro
 
Eu sei, nem eu
sabia que isso
era possível,
E hoje descobri
 
Mas eu enchi
os olhos d’água
Porém engoli
O choro
 
Pois onde me
encontro agora
Ninguém pode
saber disso
 
Saber que muitas vezes
eu não me sinto bem
E aflora sentimentos
da Isabele do passado
 
Saber que eu
ainda me sinto
Tão esgotada
De mim mesma
 
Saber que eu
ainda choro
pelo simples fato
de ser quem sou
 
Saber que todo
meu amor próprio
nem sempre está
presente comigo
 
Saber que eu
ainda sou fraca
Que ainda guardo
tudo pra mim
 
Saber que eu
ainda sei esconder
esses sentimentos
muito bem
 
Pois da última
vez que os fiz,
ninguém percebeu
por anos
 
Tanto que acabou
me levando a
quase tirar minha
própria vida
 
Não que eu não
tenha tentado
Pois eu de
fato tentei
 
O ‘quase’
remete ao
fato de eu não
ter conseguido
 
E eu fico feliz por isso
Hoje estou melhor
Pelo menos melhor
do que era antes
 
Eu só tenho esse
problema de
ainda me sentir
tão inútil
 
Um zero à esquerda
Um corpo no caminho
Tão incapacitada
de estar presente
 
Tão insuficiente
Tão incompetente
Como se eu nunca fosse
o bastante pra alguém
 
Pois eu sou tão
pouca coisa
E quem é que
Precisa disso?
 
Pouca coisa as
pessoas acham
Em qualquer canto
Qualquer esquina
 
E eu quero ser mais
Eu quero ser o bastante
Eu quero ser suficiente
até para mim mesma
 
Mas eu não me sinto
capaz de alcançar
Esse nível
De relevância
 
Sendo tão irrelevante
Tão indiferente
Tão pouca coisa
Tão coisa mínima
 
E pouca coisa as
pessoas encontram
Em qualquer canto
E qualquer esquina