Carlos Lana

O Mal dança nestes versos sombra

Passos tediosos se arrastam e se espalham
O mar que os roça de canto, pendula, oculta
O doce grito dos miseráveis, pulmões falham
Corações param, ao momento final resta a culpa

Cadência ritmada, são homens por serpentes
Rodeando sua desgraça mesma como abutres
Gaviões, ferozes, para o veneno de seus dentes
Rasgando no caminho a pele falsa, mentira, relés!

O outro, aquele que rouba, que mata, que estupra
A dor que aflige o doente, o sujo, o medroso, ou covarde
A mentira adocicada, línguas afiadas, na ponta da agulha
O sangue do Poeta respinga na balança da verdade

— ainda que quisesse eu levá-lo ao inferno
Triste seria o mal a rodeá-lo, a saber de seus caminhos
Como a penitência, o sacrifício do enfermo
Nos seus abraços embalado vai sozinho

"Numa noite de festa o Mal se ergue
Em sua dança fora de hora, sapato de pregos
Se tornou um clichê, mas noite a dentro, a festa se segue
E de rompante toquei os olhos e recuperei-os, cegos

"Arranca, mas antes olhe bem o mundo para ter motivo
A mentira, a luxúria, o céu está tão perto, sabe?
Eu sou o Mal, mas o mundo me torna bom amigo
E dos pecados que seus olhos cativam, tudo cabe

"Em suas bolas de cristais levantam minha Igreja maldita
Como um açougue, carne vendida, a Imagem putana
A perversidade, a nojeira, a caixa de pandora reaberta
A ofensa ao outro, tornou-se eu e sou o mundo que me ama

Os homens nas ruas se remontam em vergonha
Fantasiam a desgraça que os forma em coisa alguma
O insano se espalha. O mundo se desfaz em loucura
O infinito dobrado sobre si desaparece sobre as dunas

Eles gritam para todos ouvirem em praças vazias
Suscitam o medo me alimentam do desgosto cru 
Do trabalho que me poupam, acabam com suas vidas
Números de infinito em sua ode a fama, mais um!

Os outros escutam de suas janelas de cristal
As mulheres vendendo seus corpos a olhos não cegos
E a porta do céu se fecha diante dos que vem, sois o Mal
O pornográfico consumido como água na fonte do tédio

— meus filhos, foste o bem, e parto tão somente
Amaste o mundo e corrompido o espírito vendido
Por um momento vazio que desoriente
E caia para o lado, no mar que esperava calmamente, perdido.

E a culpa que apenas antes residia se desenha na volta da corda
O amor a moeda comprou a sua vida — aqui, seu troco
Literal. E os homens tornam seus filhos o mal da
Volta, sempre para o nunca mais, repetido, repetido

Por não aceitarem serem maus e tanto quanto até pior
E corromper o que era santo e por no mundo
O reflexo da sua desgraça, condenas ao suor
E culpa o novo pelo mal encanecido cavado tão fundo

E venha o mar, não mais tardar, cubra tudo 

  • Autor: Carlos Lana (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 18 de Outubro de 2023 20:11
  • Comentário do autor sobre o poema: este é um poema que mescla o passado e o futuro, o religioso e o racional, o pecado e a indiferença. Ainda que além de tudo eu diria ser: um retrato do desespero
  • Categoria: Surrealista
  • Visualizações: 5


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