Passos tediosos se arrastam e se espalham
O mar que os roça de canto, pendula, oculta
O doce grito dos miseráveis, pulmões falham
Corações param, ao momento final resta a culpa
Cadência ritmada, são homens por serpentes
Rodeando sua desgraça mesma como abutres
Gaviões, ferozes, para o veneno de seus dentes
Rasgando no caminho a pele falsa, mentira, relés!
O outro, aquele que rouba, que mata, que estupra
A dor que aflige o doente, o sujo, o medroso, ou covarde
A mentira adocicada, línguas afiadas, na ponta da agulha
O sangue do Poeta respinga na balança da verdade
— ainda que quisesse eu levá-lo ao inferno
Triste seria o mal a rodeá-lo, a saber de seus caminhos
Como a penitência, o sacrifício do enfermo
Nos seus abraços embalado vai sozinho
"Numa noite de festa o Mal se ergue
Em sua dança fora de hora, sapato de pregos
Se tornou um clichê, mas noite a dentro, a festa se segue
E de rompante toquei os olhos e recuperei-os, cegos
"Arranca, mas antes olhe bem o mundo para ter motivo
A mentira, a luxúria, o céu está tão perto, sabe?
Eu sou o Mal, mas o mundo me torna bom amigo
E dos pecados que seus olhos cativam, tudo cabe
"Em suas bolas de cristais levantam minha Igreja maldita
Como um açougue, carne vendida, a Imagem putana
A perversidade, a nojeira, a caixa de pandora reaberta
A ofensa ao outro, tornou-se eu e sou o mundo que me ama
Os homens nas ruas se remontam em vergonha
Fantasiam a desgraça que os forma em coisa alguma
O insano se espalha. O mundo se desfaz em loucura
O infinito dobrado sobre si desaparece sobre as dunas
Eles gritam para todos ouvirem em praças vazias
Suscitam o medo me alimentam do desgosto cru
Do trabalho que me poupam, acabam com suas vidas
Números de infinito em sua ode a fama, mais um!
Os outros escutam de suas janelas de cristal
As mulheres vendendo seus corpos a olhos não cegos
E a porta do céu se fecha diante dos que vem, sois o Mal
O pornográfico consumido como água na fonte do tédio
— meus filhos, foste o bem, e parto tão somente
Amaste o mundo e corrompido o espírito vendido
Por um momento vazio que desoriente
E caia para o lado, no mar que esperava calmamente, perdido.
E a culpa que apenas antes residia se desenha na volta da corda
O amor a moeda comprou a sua vida — aqui, seu troco
Literal. E os homens tornam seus filhos o mal da
Volta, sempre para o nunca mais, repetido, repetido
Por não aceitarem serem maus e tanto quanto até pior
E corromper o que era santo e por no mundo
O reflexo da sua desgraça, condenas ao suor
E culpa o novo pelo mal encanecido cavado tão fundo
E venha o mar, não mais tardar, cubra tudo
- Autor: Carlos Lana (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 18 de outubro de 2023 20:11
- Comentário do autor sobre o poema: este é um poema que mescla o passado e o futuro, o religioso e o racional, o pecado e a indiferença. Ainda que além de tudo eu diria ser: um retrato do desespero
- Categoria: Surrealista
- Visualizações: 5
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