Sou um pouco de inverno, um pouco de primavera, um céu acinzentado, uma tarde de aquarela, sou sonho e realidade, sou um pouco do agora, uma pitada de saudade, sou alegre e sou triste, sou canção e poesia, metade de mim afeição e pedaços de melancolia.

 

Sou um pouco de inverno, sou pedaços de outono, sou brilho em noite estrelada, sou folha seca no abandono, sou vento na madrugada, um poeta que vaga sem sono. Sou o grito, sou o silêncio, sou a voz de um sentimento, sou a nuvem passageira, a chuva que cai no cimento, sou vento, sou enxurrada, para alguns eu sou tudo, para outros sou nada.

 

Sou placa indicando caminho, sou pedra, flor e espinho, em alguns dias sou multidão, noutros me sinto sozinho, voando na contramão, como um pássaro fora do ninho. Sou água, posso ser rio, posso ser mar aberto ou um barco vazio, navegando em outros mares, fugaz como um assobio.

 

Sou flecha, sou bala perdida, canção de amor que consola a ferida, sou amizade, paixão não correspondida, um quadro esquecido na parede, uma tela envelhecida. Sou lembrança, sou o presente, um domingo no parque na memória da gente, um riso descontraído, teu nome e o meu num tronco esculpido, sou dia, sou tarde vazia, um verso ou outro de poesia.

 

Sou intenso, sou passageiro, as horas que duram um dia inteiro, um livro esquecido num canto, um desenho em folha de papel, sou antigo, de um tempo distante, por vezes um menestrel. Sou um pouco de inverno, um pouco de primavera, um céu acinzentado, uma tarde de aquarela, sou passarinho, sou beija flor, metade de mim coração, a outra metade é amor!

 

Jose Fernando Pinto