Sem título

Se você ainda estivesse aqui te contaria com um sorriso grande nos lábios que nas horas vagas do trabalho, estudei o movimento Tropicália e que até consegui ouvir você tocar, porque de algum jeito se parecia com seu som.
E você sorrindo mais que eu, diria que precisava de muito até dominar tudo assim.
Mas dentro de você, estaria se remexendo todo, orgulho de si e caçando algo pra deixar o que é seu rolar em forma de canção.
Eu estava pensando em como algumas pessoas permitem que coisas entrem em suas vidas, talvez sem cuidar de suas entradas, no meu caso, a entrada que não cuidei foi um retorno pra dentro.
Um medo que tinha em revisitar as memórias e sentir toda dor, foi surpreendida com beleza.
As cerâmicas azuis que eu planejei e todas aquelas plantas que poderiam ser visitas fixas de um local até sua partida.
Eu queria lotar de novo a geladeira com a comida besta que a gente gosta.
Tomar nossa breja conversando dos ETS, da magia que só eu via, da simplicidade e sutileza da vida e das suas histórias malucas de fim de noite.
mas daí lembro de quantos conselhos idiotas você dava, de como não dosava as palavras, de como queria manter o controle de tudo, determinando horários, dizeres, posturas, enfeites... essa parte do enfeite era legal, mas ele precisa partir de mim e partiu com esse seu estímulo bobo de usar coisas quentes na cabeça nos dias frios.
Esses dias sai e me encantei com as cores, com as pessoas tão loucas e dentro da sua loucura a sobriedade...
a minha sobriedade. 
Você partiu e eu fiquei de novo, igual todas as partidas,
mas que por mais que tenha me arrancado um pedaço, eu fiquei com coisas que apareceram quando eu liguei a luz.
Me vejo diferente agora!
Você foi louco...
Eu mais
Você foi intenso...
Eu mais
Você se enganou
EU MAIS!
Mas sabia que existe gente como a gente?
E existem prazeres iguais ou maiores que o nosso.
Existe doçura na vida
e na solidão
e na presença de pessoas que eu nunca imaginei conversar.

Você partir me fez bem também
Nada como a paz de um dia tranquilo
Nada como a luz da lua e o silêncio das estrelas
Nada como a guerra depois de um dia paz
Nada como a paz depois de um dia de guerra.
Lamento as fraquezas, 
mas ainda tem muita chuva pra jorrar
E eu escolho ser emocionalmente fraca e afetada pelo viver tudo que a vida tem pra me dar.

Laihse Barros