O eremita invisível

Que seja feita a minha vontade!

Pro inferno com a porra da iluminação espiritual!
Eu, este irrelevante, passageiro e ilusório ego
que vos fala, depois de tanto tempo perdido
peregrinando por terras indianas e tibetanas,
alcancei, enfim, a tão almejada evolução através
de Pitú, O guru engarrafado, presente na bebedeira
ocorrida em um barzinho de qualidade duvidosa da
minha cidade

Disse-me o mestre, com bafo de cachaça:
"As únicas verdades valiosas são os nossos
desejos egóicos e mesquinhos"

A subestimada revelação alcoólica mostrou-se
mais eficiente em esclarecer as questões
humanas do que a superestimada sabedoria oriental

Não pude acreditar. Era demais pra mim
A embriaguez da epifania me bateu tão forte
que mal conseguia falar ou andar direito
Eu não era mais um escravo da ignorância da sobriedade

Tomado pelo êxtase vadio que descia queimando a garganta
e incendiava minha essência, senti vontade de pôr
em prática o conhecimento recebido por meio do boêmio ancião

Me entreguei, sem pudor algum, às delícias mundanas
Alimentei todos os impulsos do corpo, gozei de cada
estímulo ofertado pela noite e, quando menos percebi,
durante uma orgia de sensações, fui arrebatado pela graça
do hedonismo e me tornei o mais novo discípulo da esbórnia

  • Autor: O eremita invisível (Offline Offline)
  • Publicado: 13 de Julho de 2023 00:21
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 3


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.