Meus oito anos

O aprendiz


Aviso de ausência de O aprendiz
NO

 

Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor !
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias de minha infância!
Oh ! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!

Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto o peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar!
. . . . . . . . . .
Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !

Casimiro de Abreu

1839 - 1860

  • Autor: O Aprendiz (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 9 de julho de 2023 21:30
  • Comentário do autor sobre o poema: Meu homenageado de hoje é o poeta Casimiro de Abreu. Fluminense de nascimento e contemporaneo de Machado de Assis, Casimiro nos deixou precocemente, falecendo aos vinte e um anos de idade. O poema Meus oito anos é uma obra prima da literatura brasileira. O poeta nos deixou ainda outros poemas igualmente belos como o intitulado " Uma história ".
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 14
  • Usuários favoritos deste poema: Lia Graccho Dutra, Shmuel
Comentários +

Comentários4

  • Lia Graccho Dutra

    Casimiro de Abreu,
    grande poeta do
    Romantismo
    Brasileiro.
    É um prazer
    poder apreciar
    novamente
    essa linda poesia.
    Bela e merecida
    homenagem.
    Gratidão pela
    partilha!
    Grande abraço,
    Lia

  • Mariany A.N Dutra

    O Aprendiz, que coisa boa!
    Um dos motivos de estar aqui no MLP é poder aprender cada dia mais com meus amigos... Tanto no conteúdo publicado, quanto nos comentários...

    Eu não conhecia essa poesia, muito linda, linda mesmo e bem reflexiva sobre lembranças de um tempo que não voltará, apenas recordações do que um dia foi a doce infância!

    Gratidão por compartilhar conosco!
    Vou procurar saber mais sobre o autor.. já fiz uma busca rápida pela internet e vi que ele tem um livro chamado "As primaveras" onde esse poema publicado se encontra... Fiquei curiosa para ler (rsrs)

    Minha sincera gratidão por compartilhar seu saber e prosseguimos sendo aprendizes uns com os outros!!

    Abraço Poeta!

  • Shmuel

    Coisa linda! Um clássico que aqui releio!
    Abraços!

  • Sergio Neves

    SERGIO NEVES - ...meu amigo,...tu foste bem feliz por trazer à nossa lembrança esses versos do Casimiro...,...é sempre bom reviver leituras assim...,...uma poesia poesia! ...Casimiro tinha uma linguagem poética que não se utilizava de termos mais "rebuscados" -podemos dizer assim...,...a sua poesia, invariavelmente, "bate" de pronto na nossa emoção... -é "pá pum!",...é ler e sentir! ...além de soar como música... // ...parabéns pela postagem...,...mostra bem o tanto da tua sendibilidade... /// Abçs.



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