O Bruxário de Vovó Onça

Neste dia que se inicia agradeço pela vida que acordou em mim e tudo que posso sentir e ouvir. Escuto os pássaros cantando lá  na jabuticabeira do quintal " bem que ti vi". 

Acho que eles estão saudando o céu com nuvens coloridas de amarelo, laranja e  preto...são os primeiros raios solares que surgem no horizonte, magnífica obra de arte pintada  por mãos  invisíveis  aos nossos olhos, mas temos  certeza  de sua existência...um pintor e tanto!

Ah, agora sinto  um delicioso  perfume emanando  no ar, é vovó preparando um cafezinho, pão  de queijo  quentinho e mais um monte  de seus  deliciosos agradinhos. Ela faz chá de vários raminhos, coloca rapadura  para adoçar e diz que é remedinho. 

Cissa, minha cadelinha, bate as patinhas no meu braço e enfia a cabeça por baixo do edredom, anunciando que preciso acordar, espreguiçar, alongar  o corpo e o melhor de tudo, brincar  de trabalhar. 

Tomo minha garrafinha de água que coloquei a noite ao lado da cama, pedindo  ao médico Jesus em oração, que se fosse possível,  colocar nela uma mágica poção...depois dos sessenta, duvido que haja  um corpo são.

Aprendi lidar com as dores físicas, emocionais, espirituais e até as dores da paixão...essa aí massacra o coração.

As juntas  estão  inchadas, dói  o joelho, a coluna, o braço e a mão, mas reclamo não, são as marcas guardadas das imperfeições  de vidas  passadas, que hoje servem para minha evolução. 

Tenho  muito  o que fazer nesta minha existência terrena, por isso não dou importância as dores desta velha carcaça. Hoje  mesmo, tenho uma tarefa que deixa meu velho  coração pular  de alegria, vou replantar algumas mudas de árvores  na praça. 

Tenho  um  espaço no quintal que  digo que é meu Bruxário. Coleto sementes no mato e planto em pequenos canteiros mágicos, que logo crescem folhinhas, florzinhas e até borboletinhas. 

Após as mudinhas já estarem com mais de cinco folhinhas, é hora de fazer replantio, colocar local definitivo, adubar, molhar e orar. 

Pensa numa alegria esse momento! Vou logo conversando com  elas, falando  da grande responsabilidade que elas tem...crescer, florir e  me fazer sorrir. 

Cada dia que nasce, coloco  a mão  na terra  para dar  vida a uma outra  vida. E agora  tenho  que parar  de escrever, o sol já vai nascer. 

As tarefas diárias me esperam, é  hora de aproveitar  mais esta  oportunidade de um novo amanhecer e também me florescer!

(Helena Bernardes, Vovó Onça, 20 de agosto 2020)