Um dia me apareceu no quarto
Uma mulher muito entendida
Digamos que muito sabia
E de mal criação vivia

Ela me fitou, me perguntou
- Por que você não vai entrar na faculdade de música?
-  Aprovado ja foi, muito bem aprovado por sinal

As vezes ele gostava de inflamar meu pobre ego
Eu respondi que nunca saberia
Não tinha casa, nem cozinha
Vivia com Dom Flavio
E estava muito mal acostumada

Já estava chegando nos 30
E cabelos brancos já me apareciam
E já tinha inventado muitas mentiras

De súbito ela arregalou aqueles olhos
Certamente as mentiras lhe interessavam

Como eu disse, ela me perguntou unicamente
Sobre as mentiras

Ela era paulista, mas gostava de folia
No carnaval pintava e bordava em qualquer
Bloco de esquina

Para instigar seu interesse pelo proibido, disse

- A maior delas?

Ela disse - SIMMM

- Bom, vou contar as duas maiores

Ela arregalou novamente aqueles olhos
Como se no seu cérebro houvesse um sino

Rindo falei - Foi dizer que eu sou de Curitiba e que faço medicina

Caímos as duas em gargalhadas

Mas ela parou de súbito, como toda mulher

E me disse

Isso nem é mentira

Mentira é uma coisa proibida
É tipo roubar o tio de madrugada
Enquanto ele tá dormindo
Embriagado
E no outro dia quando ele perguntar "cadê?"
Você finge não saber

A conversa acabou...